segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A senhora da mercearia sabe de tudo um pouco

Na passada quinta-feira, dia 17, o M. foi tomar a vacina da Gripe A. A quantidade de 'líquido' pareceu-me minúscula, foi rápido, e, até ver, não houve qualquer reacção. Até a zona da picada ficou quase intacta. O enfermeiro que administrou a vacina, daqueles homens de meia-idade, bigode e poucas falas, pôs-lhe um penso a repuxar a pele toda. Quando eu estava prestes a tirar-lhe o penso porque aquilo estava a fazer-me impressão, ele mandou parar. Disse que é suposto ser assim, deve ser uma técnica qualquer para evitar que aquela zona fique inchada, digo eu, uma vez que efectivamente o braço ficou em perfeito estado.

No fim da toma, a enfermeira que estava à secretária, meteu conversa com o M. Perguntou-lhe se tinha namorada. E eu fiquei a olhar para ela com cara de tacho, de certeza. O meu filho pouco fala, se lhe perguntasse a idade ele até saberia responder, agora 'se tem namorada'? Nem sabe o que isso é. Só conhece mamã, mana, Kittys, Winks e afins, ainda não chegou lá... Ela tem um filho com pouco mais de dois anos e contou que ele pouco dizia, mas que uma tia dela, professora primária e com diplomas em não sei o quê que não percebi mas devia ser algo de importância, dizia para ela não se preocupar. Ele percebia o que lhe diziam e isso, segundo ela, significava que o 'foco' da linguagem estava bem, que a fala viria depois... Segundo a enfermeira, quase de um dia para o outro, o filho começou a falar muito, a dizer frases com tempos verbais e tudo. Disse para não nos preocuparmos. Em vão. Preocupo-me na mesma.

O M. saiu do gabinete e teve de ficar um pouco à espera, cá fora, para ver se fazia alguma reacção. Qual quê. Pôs-se logo a correr de um lado para o outro nos corredores e a meter-se com quem por lá andava. Outra enfermeira passou por ele e ficou admirada por ele já ter tomado a vacina, pensava que ainda estava à espera para entrar. Disse que já estava visto que não ia ter ali qualquer reacção. E não teve.

Amanhã vai a M. à vacina, uma vez que alargaram o limite de idade. Não se pense que não tenho algum receio. Claro que tenho, até porque, como já comentei, hoje em dia há vacinas para tudo, há vacinas a mais. Só que, por outro lado, acaba por ser um sossego, principalmente numa altura de pandemia. Tenho mais medo da doença do que da vacina. E se eles tomaram, pela primeira vez, a vacina sazonal, como é que poderia não lhes dar esta vacina para uma doença que tem trazido consigo complicações graves a nível pulmonar? E sou daquelas que acreditam mais no que é veiculado pela OMS do que pela senhora da mercearia: por alguma razão a mulher da mercearia trabalha na mercearia e não na OMS.

Se pudesse também tomava. Desde que tive a M. perdi o medo absurdo que tinha de agulhas. Agora, se for preciso ir, lá vou eu, corajosa e saltitante, em direcção às picadelas. Fiquei triste (pode?!) quando disseram no noticiário que estão a pensar alargar o limite de idade até aos 30 anos. Tenho mais um bocadinho do que isso. Acho que já disse aqui que não sou normal, mas é só para relembrar. :P

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pequenas conquistas

Identifica praticamente todas as partes da cara e do corpo. Diz pé há muito tempo, por vezes diz mão e ultimamente parece tentar dizer mais algumas partes.

Imita o Sapo. 'Como é que faz o Sapo?', pergunto, e ele faz os gestos do anúncio.

'Canta a Popota, M!' e ele cantarola 'ta-ta ta-ta-ta ta-ta ta-ta-ta'. Também canta os Irmãos Koala e suspeito que aprendeu o 'Pinheirinho' no colégio.

Depois de pedir para o tirar da cadeira do carro (diz qualquer coisa parecida com 'tira'), quer descer dela e saltar do carro sozinho (os meus filhos têm mesmo a mania da independência): conta 'um, dois, três', à sua moda, e salta.

Quantos anos tens? 'Dô!', por vezes acompanhado dos dois dedos indicadores em riste.

Muitas vezes pedimos-lhe que identifique os membros da família. Há dias, por iniciativa dele, identificou todos de seguida, muito satisfeito: mamã, papá, ana (mana/M.), e uma espécie de avô e avó.

Ainda pouco fala e já quer saber ler.:P Estava a M. no banho com ele, a tentar ler o que dizia no sabonete líquido e chega à conclusão que é 'ba-nho!'. O M., quando consegue apanhar a embalagem, imita a irmã, apontando com o dedinho e dizendo 'ba ba ba'. O feito repetiu-se quando a M. estava a ler o título de um livro da Dora. Lá foi ele, a seguir, ler também.

sábado, 28 de novembro de 2009

Grandes Compras


Há duas semanas atrás aproveitámos a promoção dos 50% de desconto em calçado do Continente. Tenho pena da variedade e quantidade de calçado não ser maior. Estava tudo muito vazio, mas o que consegui encontrar veio mesmo a calhar.

Na semana passada, foi a vez dos 50% em vestuário de criança. Fui no primeiro dia (sexta-feira), gastei cerca de 200 euros em vários sacos de roupa para os dois, e consegui compor o guarda-roupa deles, que estava quase depenado. Como ainda tinha um vale de 10% desconto para utilizar numa compra, a roupa acabou por ter um desconto total de 60%, ou seja, acabei por ficar apenas depenada em cerca de 80 euros. Ainda voltei lá no dia seguinte para trazer mais uns sacos de camisolas polares e outros artigos, os quais 'paguei' com o saldo do dia anterior, ainda sobrou e juntei mais os 5o% desse dia.

Agora, há a promoção de 50% desconto em grandes marcas, entre as quais estão as toalhitas Dodot. Eu e o Belmiro temos uma qualquer conexão telepática, só pode. É que, para além da evidente relação que nos une (ele quer que eu faça as compras no Continente e eu vou lá fazer-lhe a vontade de forma recorrente :P), ele adivinha quando é que as toalhitas do M. estão a acabar. Sempre que penso 'estava mesmo a precisar que fizessem a promoção das toalhitas', lá aparece ela. Já lá fui e abasteci o meu stock das ditas, aproveitando ainda a promoção de 50% que também havia nos champôs Johnson (eu não digo, o B. está sempre em preocupado com o nosso bem-estar :P).

Pelo meu aniversário, enviaram-me um vale de dez euros virtuais, para gastar no Continente on-line. Pensava que tinha até ao fim do mês para fazer a compra, mas, afinal, tinha só sete dias, pelo que vou ficar com esse imenso desgosto de não ter aproveitado dez euritos à borla. Humpf!

Sejamos francos, como os outros hipermercados da região, regra geral, são uma badalhoquice (sim, tem de ser mesmo esta palavra porque é a mais fiel à realidade), acabo por fazer o grosso das compras no Continente. Só vou aos outros fazer pequenas compras ou aproveitar algumas promoções interessantes. Por isso, agradeço os descontos de 50%, os vales de 10% e tudo o resto que possam colocar ao meu dispor. E depois deste momento publicitário, até merecia que fizessem 50% desconto nas fraldas Dodot Activity tamanho 5, não merecia? ;)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Prognósticos, já se sabe, só no fim

O M. ja fez um EEG há uns meses atrás. O pediatra mandou fazê-lo para despistar possíveis 'ausências'. Mais por insistência da nossa parte, porque, pela nossa descrição, não lhe parecia que fosse o caso.

No dia do exame, a técnica disse que não via nada de relevante no traçado, mas que ainda tinha de ser visto pela médica. Já com o relatório na mão, o pediatra disse que 'ausências' o M. não tem, porque nos exames elas correspondem a um traçado muito específico, o qual não aparecia no do M. Qualquer das formas e, segundo ele, aquele exame acaba por não ser 'nem carne nem peixe' porque revela que pode haver 'qualquer coisa' mas basicamente é inconclusivo (remete para relacionar com a 'clínica demonstrada'). As 'ausências', que era o que poderia ter face aos 'sinais', não tem. O 'qualquer coisa' também não deve ter, pois em princípio apontaria para convulsões daquelas mesmo evidentes, e isso nunca aconteceu. Além disso, sem medicação, a tendência era para os 'sinais' se agravarem, os episódios seriam mais recorrentes, e isso também não aconteceu. Podemos repetir o exame, mas convém deixar passar de seis meses a um ano.

O que é que eu acho? Que ele não tem qualquer forma de epilepsia. Pelo que sei, só há epilepsia quando a um EEG alterado há uma correspondência de crises convulsivas na 'vida real'. Epilepsia no papel sem ter correspondência 'visível' não é nada, e em crianças destas idades o cérebro ainda está em desenvolvimento...

...

Ontem, quando fui buscar o M. para ir ao pediatra, falei com a educadora. Ela deu-me o nome de uma terapeuta da fala que recomenda. Diz que não acha urgente e que se não soubesse que nós, pais, nos preocupamos com a questão na fala, provavelmente nem sugeria nada. Mas que acha que podíamos tentar, porque o M. está bem nas outras áreas e só falta essa. Segundo ela, quem convive com o M. nem se apercebe que ele não fala, porque ele é vivaço e passa a mensagem de outras formas. Diz que o M. está muito bem no comportamento geral e que faz muitas tentativas para falar, já não se irrita a fazê-lo, procura conseguir. Eu também noto isto. Acho que o M. no desenvolvimento global está igual a qualquer outro miúdo, até noto que ele procura mais interacção e brincadeira do que as crianças da idade dele que encontramos. O M. é muito 'dado' e, lá está, está sempre pronto para a 'festa'. As palavras da educadora sempre me tranquilizaram, porque ela passa muito tempo com ele e é muito atenta.

Fomos, então, à consulta com o pediatra, que também costuma ser muito calmo e tranquilizador. Sempre disse que achava que o M. não tinha nada de patológico, que era uma questão de (i)maturidade. Só que, desta vez, o discurso dele foi um pouco diferente. Continua a dizer que acha que é tudo uma questão comportamental/educacional e do desenvolvimento dele, mas que não nos pode garantir que não haja um problema neurológico por trás. Diz que uma lesão neurológica pode estar na origem do problema da fala e de alguma irritabilidade (eu acho que o M. é apenas muito senhor de si, mas posso estar em negação...).

Quanto à terapia da fala, que a educadora sugeriu como algo que poderia dar um 'empurrão e dicas', o pediatra acha que não vale a pena, que só serve para corrigir ou para identificar a origem do problema quando a criança já fala alguma coisa. Quanto ao episódio do vómito, diz que pode ser uma coisa banal, mas também pode não ser (obrigadinha...), mas não deu grande relevância. Ah! Se houver um problema neurológico, ele diz que temos de nos preparar para o M. ter as suas limitações e que só irá até onde pode ir. Aqui eu não sei se o pediatra percebeu que a nível cognitivo o M. está muito bem, pelo menos é isso que vemos em casa e que a educadora vê no colégio. É inteligente, desenrascado, curioso, interessado. O que me preocupa é mesmo 'só' a fala.

Mais uma vez por insistência minha (mas por que é que não me calo?), lá acabou por dizer que podemos fazer uma avaliação com a pediatra do desenvolvimento, que só está lá uma vez por mês e que, por acaso, até vai estar lá amanhã. Só que está tudo cheio, não consegui vaga. O pediatra diz que provavelmente ela vai acabar por recomendar ir ao neurologista e que este talvez mande fazer uma ressonância magnética, mas, que para já, devíamos evitar esse exame porque envolve anestesia e mais não sei o quê e o miúdo ainda é pequeno.

Só uma nota: no fim de Agosto, o pediatra achou que o M. estava mais calmo (na altura, não consegui deixar de rir perante esta observação, porque o M. está cada vez mais reguila) e mais de acordo com a idade dele. Agora pode ter um problema neurológico. Posto isto, vou só ali atirar-me do sofá e volto já.

...

Voltei.
Qualquer dia sou eu que preciso de tratamento.:S Isto de ir aos médicos é vicioso, não acaba, é labiríntico. Por isso é que eu e meu marido temos evitado encontrar-nos com tais seres. É que chegámos à brilhante conclusão de que não chegamos a conclusão alguma. Eu juro que já não posso com eles, e até nem é por causa deles em si, é mesmo pela confusão da 'coisa'. Já fico impaciente perante eles, e isso deve-se notar. É como se diz, qualquer dia se não se morre da doença morre-se da cura.

Para mim, o M. não tem autismo (as coisas que me podiam levar a pensar isso desapareceram), não tem epilepsia, não é hiperactivo, não tem défice cognitivo. Não sei se tem outra coisa qualquer que desconheço e palpita-me que os médicos também não saberão. E isto tudo irrita-me, porque (e como a educadora e eu já concluímos) se fosse há uns anos atrás (não era preciso recuar muito) ninguém pensava que o M. pudesse ter algum problema. Agora é tudo fast e standard, tem de ser tudo fast e standard.

A propósito disso, no primeiro dia de colégio da M., quando foi para a sala dos três anos, a educadora dela deixou-me ficar um pouco na sala, no início. Havia lá um menino 'novo' que ficou a olhar para um lápis como se de um bicho de 52 patas se tratasse. A educadora, inclusive, olhou para mim, do género 'ele não sabe o que é um lápis, aos três anos'... Bolas, que o meu filho sabe o que é um lápis desde que tinha menos de um ano. Quando foi para o colégio, a educadora até disse que o M. fazia uma coisa que os outros, em geral, ainda não faziam: trocar de lápis. Já tinha noção que podia pintar com uma cor, depois com outra, provavelmente por ver a M. a fazer isso em casa. Aliás, a educadora sempre sempre mas sempre disse que a nível cognitivo e social o M. estava a par dos outros. Agora, vou para a pediatra do desenvolvimento avaliá-lo a nível cognitivo? Bem, se eu tivesse levado a M. com esta idade à pediatra do desenvolvimento, não sei se ela 'passava' (LOL), porque ela não ligava a puzzles, a jogos de encaixe e outras coisas que tais. Só queria festa (deve ser genético), saltar, jogar à bola, andar de triciclo, brincar e outras coisas muito pouco intelectuais e de utilidade pública.

...

O M. começou a andar tarde, é um facto. Gatinhava como se não houvesse amanhã, mas andar mesmo só aos 17 meses (se pensarmos que o filho da podologista começou a andar aos 18 meses e o meu marido aos 19, até que não está mal). Lá começou meio a medo, mas o certo é que, hoje, trepa sofás e cadeiras, salta, corre, cai e levanta-se num ápice, sobe escadas de escorregas com destreza, tenta subir para a cadeira do carro e salta fora dela. Aliás, ele imita a M. em tudo e consegue fazer quase tudo o que ela faz, o que penso ser bom já que ela tem mais de seis anos, não? O M. não ligava muito a bolas, agora anda atrás delas tipo Ronaldo; andava na mota eléctrica, mas tinha que andar alguém atrás dele, agora vai pegar nela, anda, faz marcha-atrás, sobe e desce passeios, põe-se em pé e quando lhe dizemos para se sentar faz olhar de mafioso e põe-se, claro, em pé... Enfim, não sei o que hei-de pensar.

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Ainda acerca do episódio do vómito de segunda-feira, a minha empregada acabou de me contar que o neto, da idade do M., nesse dia, estava cheio de sono, tanto que adormeceu às 18:30 enquanto ainda estava a ser arranjado depois do banho. Dormiu até às 8:30 do dia seguinte, o que é invulgar nele, já que costuma dormir muito pouco, deita-se muito tarde e levanta-se muito cedo. Pode ter sido, sei lá, devido a uma mudança climatérica? :S

Em relação à tal 'irritabilidade', se o meu é assim, o neto dela não é 'melhor'. Ambos querem lavar os dentes sozinhos, não deixam que alguém os lave. Ambos não se querem vestir de manhã (o neto até dorme vestido para de manhã ser só sair da cama, senão faz birra). Ambos fazem birra se querem ir para a esquerda e nós para a direita. Ambos querem calçar sapatos e vestir casacos para ir à rua, senão lá vem birra. Como o M., o neto dela gosta do banho, mas não quer sair de lá, nem quando a água já está gelada e ele roxo (o M. ainda colabora na saída, tem é que vestir o roupão da mana). E, claro, depois não se quer vestir. Cruza os braços e, geralmente, é preciso haver umas três pessoas disponíveis para o agarrar e vestir (eu, sozinha, ainda consigo vestir o M., embora a custo, já que ele teima em andar nu, frio e engelhado atrás do Homem-Aranha e do Noddy; de vez em quando resolve colaborar, distraído com os desenhos animados dos Irmãos Koala, a ler um livro ou a brincar com uma novidade qualquer).

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Prognósticos, portanto: esperar muito, ansiar mais, ter muitas dúvidas e poucas certezas, pagar bem e ter pouco retorno. Como dizia o outro, é esperar pelo fim do jogo.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sabor amargo

Já não sei o que diga sobre este meu filho...
Acho que até posso dizer que tem andado bem, tirando as ranhocas, as tosses e as birras. Tem andado bem, sim.

Só que ontem, enfim... Fui buscá-lo e, como sempre, dei-lhe um Actimel. Depois fomos buscar a mana. A mana entra no carro, esfrega as mãos com gel desinfectante e o M., claro, também quer. Por isso, também limpa as mãos. Depois, chegamos à garagem e ele, já não sei bem por que razão, tira as sapatilhas. Arranjo-o e vamos para casa. Chegados a casa, quer cereais Estrelitas, Nesquick e mais não sei o quê. Petiscam os dois. O M. mastiga também o comprimido Singulair.

Depois vão para o banho e o M. fica um pouco maldisposto porque queria brincar primeiro, como costuma fazer quando chega a casa, mas vai para o banho e fica bem. Acabado o banho, vestem-se. O M. começou a pôr a fralda de pano embrulhada debaixo do pescoço, parececia ter sono. Depois fomos em direcção à cozinha para jantarmos. O M. passa pela salinha dos brinquedos e quer fazer o puzzle grande do Noddy, mas não deixei, e lá veio atrás de mim, bem até, sorridente. Na cozinha, senta-se na cadeira de comer, come pão, quase nada da sopa e parece estar cheio de sono, quase que adormece. Não quis batatas fritas de pacote, que tentámos dar para ver se 'despertava'. Esfregava muito os olhos. Tentei tirá-lo da cadeira, mas não deixou, queria dormir lá. Depois dei-lhe um biberão de leite, para ver se o bebia e ia deitar-se. Bebeu tudo, mas teve de sair da cadeira à força. Foi ao colo do pai, mas sempre a espernear. Depois, acabou por ficar no chão. Deitava a cabeça dem cima da fralda de um lado, depois virava-se para o outro lado. E ficou assim um tempo. Acabei por conseguir levá-lo para o quarto e ele tentava adormecer no meu colo mas estava maldisposto. Até que se põe em pé e vomita tudo.

Pareceu ficar melhor, mas tivemos de lhe tirar as pantufas do Homem-Aranha e, claro, ele não entendeu que tinha de ficar sem elas. Foi para a salinha, mas não quis fazer o puzzle, não quis brincar com a mana, sentou-se apenas com o olhar mais vago e abstraído que já lhe vimos. Até o papá, que acha sempre que o M. está bem, que não tem problema algum, ficou assustado. E isso assustou-me mais do que propriamente a atitude do M. O pai perguntou-lhe se queria dormir, ele respondeu 'não' e continuou 'ausente'. Quando lhe quis pegar ao colo, ele veio, mas continuava esquisito. Acabou por ir à casa de banho procurar as pantufas. Não estavam lá. E foi com o pai à cozinha, onde eu estava a pô-las na máquina de lavar. Aí, queria as pantufas, sentou-se no chão em frente à máquina, a olhar para elas, deitou-se no chão e não queria sair dali. Acabou por adormecer no chão, mas já perto do quarto. Deitei-o e ficou a dormir bem. Umas horas depois, fui mudar-lhe a fralda, porque se não o fizer acorda molhado, ele despertou, mas consegui arranjá-lo e voltou a adormecer. Tapei-o e hoje de manhã ainda estava na mesma posição, o que não é hábito, já que costuma tirar tudo o que tem em cima dele.

Quando acordou, quis logo ir à cozinha para procurar as pantufas (nunca vai directo à cozinha). Fui buscá-las à varanda, ele pegou nelas e foi sentar-se no chão, em frente à máquina da roupa, apontou para dentro dela, fez de conta que estava a limpar as patufas e depois calçou-as. Ainda não estavam totalmente secas, mas teve de ser. Foi para a cadeira de comer e sentou-se. Comeu iogurte e cereais e estava bem-disposto. Começou a dar um episódio do Noddy na TV, por isso não quis sair de casa para ir para o colégio, mas fingi que já estava a acabar, disse-lhe 'oh, acabou!' e desliguei a TV, e ele lá foi.

Ontem à noite, depois de se ter deitado, liguei para a Clínica e consegui uma vaga para hoje à tarde. Nesta altura do campeonato, queria evitar ir para esses sítios, mas vai ter de ser. Quero saber se está tudo bem com os ouvidos, com a garganta, com os dentes (falta nascer um), se pode ainda ter sido reacção à segunda dose da vacina da gripe sazonal, se um ataque epiléptico pode ter estes contornos (sou quase completamente ignorante no assunto, não sei até que ponto pode haver variações 'mais leves' ou mais evidentes).


[Uma convulsão é a resposta a uma descarga eléctrica anormal no cérebro.
O termo crise convulsiva descreve várias experiências e manifestações do comportamento e não é o mesmo que convulsão, embora os termos se utilizem, às vezes, como sinónimos. Qualquer coisa que irrite o cérebro pode produzir uma convulsão. Dois terços das pessoas que experimentam uma convulsão nunca têm uma segunda. Um terço tem convulsões recorrentes (uma doença denominada epilepsia).


Precisamente, o que acontece durante uma convulsão dependerá de qual a parte do cérebro que foi afectada pela descarga eléctrica anormal. Essa descarga pode afectar uma pequena zona do cérebro e fazer com que a pessoa só sinta um odor ou sabor estranho, ou então pode incidir numa área ampla do cérebro e causar uma convulsão (contracções e espasmos dos músculos de todo o corpo). A pessoa pode também experimentar ataques breves de uma alteração da consciência, perder o conhecimento, o controlo muscular ou o controlo da bexiga urinária (incontinência urinária) e sofrer um estado de confusão. Geralmente, as convulsões são precedidas de auras (sensações estranhas de odores, sabores ou visões, ou um forte pressentimento de que a crise vai piorar). Por vezes, tratar-se-á de sensações agradáveis e, outras vezes, extremamente desagradáveis. Estas auras manifestam-se em 20 % das pessoas afectadas por epilepsia.

O ataque costuma durar de 2 a 5 minutos. Quando termina, a pessoa pode ter dores de cabeça, dores musculares, sensações estranhas, confusão e fadiga extrema (conhecido como estado pós-crítico). Habitualmente, a pessoa não se lembra do que aconteceu durante o episódio.] Daqui.

Boa. Uma convulsão pode ser só sentir um sabor estranho. Como é que vou saber se o meu filho sentiu um sabor estranho ou não? :S

Cansadinha disto...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Mas a quem é que os meus filhos saem? :S

Palavras do pai:

Ela vai ser sempre assim roqueira, nunca vai ser princesinha. É assim, pronto.
[Despachada, robusta, atlética, dançarina, festiva, a melhor, a mais forte, a primeira, a que leva tudo à frente.]

Ele vai ser sempre assim parvinho. Vais ver.
[Palhaço - ok, acho que quando o meu filho conseguir ler isto vai ficar ofendido :P -, brincalhão, folião, expressivo, na dele, engraçado, sempre em festa.]

Teimosos e persistentes, os dois, acrescento eu.

GripeS

O pediatra dos meus filhos diz que eles devem tomar a vacina da Gripe A logo que comecem a vacinar as crianças 'normais'. Segundo ele, não há qualquer inconveniente, pelo contrário. Devem mesmo fazê-la.

O M., como tem problemas respiratórios, nomeadamente asma, ainda que ligeira e controlada com medicação, pode tomar a vacina mais cedo, tendo que apresentar, para o efeito, uma declaração do pediatra. Só que tomou a segunda dose da vacina da gripe sazonal no passado domingo, pelo que vai ter de esperar um mês (por volta do dia nove de Dezembro, adquirindo imunidade ao vírus lá para o final do ano).

Hoje em dia, os miúdos são sujeitos a vacinas 'a mais', não há dúvida. As vacinas já não são apenas para as massas, são também individualmente massificadas. Já lhes perdi a conta, nem vale a pena tentar seguir o rasto. É evidente que isso nos deixa apreensivos, porque, lá diz o povo, tudo o que é em excesso faz mal. Põe-nos a pensar. Todavia, em situações como estas, de epidemias, pandemias e outras -mias, as vacinas não me assustam, pelo contrário. Foi, também, à custa das vacinas - do plano nacional e extra plano-, que os meus filhos já escaparam, por exemplo, a surtos de varicela e a gastroenterites que deixaram os outros miúdos bem mal.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Com os pés bem assentes... no que estiver mais à mão

7:00 de segunda-feira:

M. é acordado. Levanta-se a custo e é tirado da cama. Ainda meio a dormir, desloca-se aos pés da cama e calça os chinelos. Só que os chinelos não estavam lá! O sono era tanto que estava a fazer aquilo 'automaticamente', mas lá acabou por dar conta de que não havia chinelos.

Prosseguiu. Desta feita, dirigiu-se ao guarda-roupa e abriu a gaveta onde sabe que estão umas meias antiderrapantes da irmã (mas que ele 'adoptou') cada uma com uma grande vaca cosida à frente. Pegou em dois pares de meias com uma textura semelhante e foi em direcção à salinha, sem se aperceber que aquelas não eram as que ele queria.

Já na salinha, despertou e foi brincar. Peguei nas meias e guardei-as. Nunca mais se lembrou delas. 'Tadinho, estava mesmo com sono (costuma levantar-se mais tarde), mas, tal como a irmã, mal se levanta, é um despacho.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

'Ai' já não é um mero grito

Exclama o M.:
- Ai!
A M. vira-se e constata rapidamente:
- Olhem, o M. disse um ditongo: o 'ai'!!
Observa imediatamente o surpreendido pai:
- Foi a coisa mais eloquente que ela disse até hoje!

Já passou tanto tempo que até já estamos noutro mundo, no admirável primeiro ciclo do ensino básico.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Essência masculina numa caixa

Comprei, no Continente, um cesto rectangular pequeno e com tampa. Cheguei a casa, tirei-lhe a tampa e coloquei-o na casa de banho com produtos de higiene (cremes, água do mar e pouco mais). Ficou logo tudo mais organizadinho.

Quando o papá cá de casa entra na casa de banho e dá de caras com semelhante obra-prima, imediatamente discursa sobre o assunto:
- E para mim, não há? Não compraste? Também quero um. Olha a ver se trouxeste para mim!
Respondo:
- Ainda pensei nisso, mas pensei que não querias, e não sabia se cabia aí.
- Tens de comprar um para mim. Preciso para pôr os meus produtos todos que estão ali. Olha, vês? Quando fores lá, compra outro.

[Era tudo tão mais simples antes da metrosexualidade...]

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Muitos, muitos anos depois...

Quem é que consegue encarar um subsídio de 200 euros que só pode ser movimentado pela 'criança' aos 18 anos como um incentivo à natalidade?

Algumas considerações:
- Que os pais possam fazer depósitos ao longo dos anos tendo as mesmas deduções fiscais das contas poupança reforma ainda deve ser o melhor da proposta. Mas, ainda assim, é preciso que os pais tenham capacidade financeira para o fazer. Afinal dá-se 200 euros, supostamente para ajudar, e depois espera-se que os pais ainda tirem da cartola mais uns euros?

- Será que se esqueceram que colocar mais um zero? Se calhar é um lapso. É que em Espanha são 2500. :S

- 200 euros, mesmo com juros e com alguns trocos poupados ao longo do tempo serão significativos para ajudar ao início de um empreendimento próprio ou para financiar os estudos superiores (como ouvi na rádio)?

- Como incentivo à poupança, ainda vá, agora, e repito a questão, como incentivo à natalidade? 18 anos e nove meses depois?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Juntar as peças

A auxiliar da sala do M. disse-me que na sexta-feira estava a dar água aos meninos e que o M. lhe pediu:
- Ti, áua! [Tina, água!]
Ela diz que até olhou para a educadora, para ver se ela também tinha percebido, e que a educadora fez-lhe um gesto a mostrar que sim.

É notório que o M. se esforça mais fora de casa. No colégio, com os avós ou com desconhecidos. Então com desconhecidos, é vê-lo a dizer dezenas de 'olás' e até mesmo 'andas' ('ana', na linguagem dele, acompanhado da mão a fazer o gesto).

Nunca o ouvi a pedir água. Pega na garrafinha e bebe; ou aponta para a garrafa/copo e emite uns grunhidos impacientes ou diz 'dá'; ou pega no copo, sobe a uma cadeira e tenta pegar no recipiente da água para enchê-lo (não consegue, que o recipiente é pesado, por isso... grunhe :S).

Perguntei à auxiliar se o M. costuma chamar por ela ('Ti') e ela diz que sim. Cá por casa, quando quer alguma coisa, muitas vezes diz 'ati', o que eu pensava ser o nome dele, do tipo 'dá ao ati'). Agora estou na dúvida, será que o que ele está a dizer não é o nome dele, mas sim o nome da auxiliar? Do género, 'quero a Ti', ou então pensa que 'Ti' é qualquer coisa que significa o mesmo que 'dá'? Só dúvidas... Hoje vou tentar falar melhor com ela sobre isso.

No fim-de-semana, o M. foi à cozinha, pegou numa banana e disse 'nana', ao mesmo tempo que a trazia para eu lha dar. E, ao mostrar-lhe um cartão dum jogo do Noddy, que tinha uma maçã, ele repetiu o meu 'maçã' com um 'çã' ou 'açã', som que nunca o tinha ouvido dizer. Serão coincidências? O certo é que estes momentos são tão escassos... E ainda há aquilo que não percebo bem se disse ou não, como me parecer que já disse borboleta, sapato, casaco e dói-dói, tudo na liguagem dele, claro. Mas é tudo tão incipiente... Tento ficar feliz com estes pequenos avanços, mas a preocupação leva a melhor.

Ontem, estava a brincar com ele, com um jogo que tem um tabuleiro e uma peças magnéticas em forma de carros. Digo-lhe sempre 'pó-pó', mas, para variar qualquer coisinha, comecei a dizer-lhe 'pó-pó azul', 'pó-pó vermelho' e assim por diante. Ele acena com a cabeça, a dizer que sim, mas não sei ao certo com que intenção o faz. Colocámos três carros azuis juntos e disse-lhe que eram todos azuis. E ele apontou e disse 'zu'. Depois, para meu espanto, olha para o meu pijama e aponta para uma lua azul e ri-se, depois aponta para um urso azul. Não pode ser coincidência, pois não?

Noto no M. um crescente (ou será apenas mais notório) problema com níveis de frustração. Não sei se é por não falar que tem esse problema, ou se é por causa desse problema que não fala. O certo é que é capaz de se ocupar por bastante tempo a fazer alguma coisa que lhe corra bem. Mas, se não consegue, como quando falha em colocar uma peça num puzzle, desiste e vai logo fazer outra coisa qualquer. Por vezes, até puxa o cabelo ou belisca-se. Nada de mais, mas é evidente. Se calhar noto mais agora, porque começou a fazer mais puzzles, desde que os pus mais à mão. Os que são para a idade dele ou mesmo alguns para três anos, até lhe correm muito bem. Mas se vai buscar puzzles mais complexos ou se não consegue encaixar uma peça, desanima. Não se isola, geralmente vai buscar outra coisa qualquer para brincar connosco ou ao nosso lado. Acho que nas crianças pequenas é normal esta frustração, mas como aqui o caso está um bocadinho mais complicado, a preocupação também aumenta.

Quando me lembro da M., na idade dele, era o mesmo ou pior. Ainda hoje, se for a ver, a M. tem a mania que tem de ser a melhor e não lida bem com a frustração. (Será que alguém lida?) Quando era pequena, nem pegava em puzzles. Só muito tarde consegui que sossegasse e mostrasse interesse em que lhe contasse histórias. Andava sempre de um lado para o outro, sempre foi muito 'física'. Pedalava no triciclo como ninguém, mas não ligava à TV nem aos peluches nem aos jogos, pouco aos livros. Queria andar sempre aos saltos e era (é) um despacho.

Acordava e não chamava por ninguém. Berrava. E só se calava com o biberão na boca. Era difícil vesti-la e penteá-la, tal a energia. No colégio, disseram sempre que não era hiperactiva, apenas com muita vida. Hoje, confirma-se. E que brincava muito sozinha (provavelmente por fazê-lo em casa), mas também brincava com os outros (basicamente com os maiores, até fugia para a sala dos grandes). Insistiam nisto, que ela brincava muito sozinha, mas também acompanhada. E eu, ainda pouco informada destas coisas comportamentais, perguntava-me 'mas por que raio insistem em dizer que também brinca acompanhada, qual era o problema se brincasse sozinha?'. Juro que na altura não percebia. Para mim, uma criança pequena brincar sozinha parece-me tão normal. Porque, como diz o pediatra, antes dos dois anos, o conceito de socialização delas ainda é rudimentar. E, claro, como ela era cheia de vida, não me passava pela cabeça que pudesse ter algum problema (a não ser a infindável energia).

...

Com tanta dispersão por parte do otorrino, na consulta esqueci-me de falar com ele sobre o mais importante. Sobre a interpretação do exame auditivo, que ainda não fizemos. Basicamente, só tínhamos falado ao telefone sobre isso. Queria saber até que ponto é que aquele exame nos pode dar alguma indicação sobre o nível de audição do M. antes da cirurgia. E queria também preceber por que é que supostamente o restabelecimento da audição é imediato com a cirurgia, e afinal depois venho a descobrir que não é bem assim. Que o exame só deve ser feito pelo menos um mês depois da cirurgia para que os resultados sejam fiáveis. É contraditório e gostava de perceber a lógica. Por isso, vou ter de fazer um sacrifício e acompanhar o meu marido, na quinta-feira, quando for ao otorrino tirar o (último) silicone que ainda tem no nariz. Vou levar o relatório do exame e ver se consigo retirar do médico alguma informação objectiva sobre o assunto, que é isso que pretendo dele, e não aventuras noutros campos da medicina (acho que ele deve ser um Indiana Jones reprimido :P).

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dêem-lhe o título que quiserem que eu já esgotei a lista

O pediatra acha que o M. tem apenas um ligeiro atraso psicomotor sem estar propriamente fora da normalidade, que é preciso dar-lhe tempo para amadurecer, que é apenas um pouco abebezado e que não lhe parece que seja autista.

A educadora diz que o M. tem um comportamento diferente de todos os outros da sala, mas faz tudo o que os outros fazem, e atribui a diferença ao facto de ter estado sem ouvir correctamente durante muito tempo e de ter saído do colégio. Diz que já pôs a hipótese de autismo mas que a foi pondo progressivamente de lado. Diz que desde a cirurgia houve uma grande evolução por parte do M. Que ele agora faz quase tudo 'à primeira', que não fica a ver o que os outros vão fazer para depois fazer também, que percebe as ordens, que não é preciso falar alto com ele, que agora emite muitos sons que antes não emitia e tagarela mais. Diz que tem muitas atitudes que são contraditórias com o autismo, e que é preciso dar valor ao que ele faz, aos aspectos positivos, e não ao que ele não faz. O meu marido acha que o M. está bem e que eu me preocupo demais.

Eu procuro ver os aspectos positivos e fico mais tranquila com os 'relatórios' da educadora, porque, afinal, ela passa muito tempo com ele e sei que tem uma postura vigilante (além disso, trabalhou vários anos com autistas, embora não desta idade). Mas, depois, surge inevitavelmente uma consulta de otorrino e cai tudo por terra. Porque o homem só há meio de ver o que há de negativo e juro que já estive para lhe dizer que acho que ele (o otorrino) é que deve ser autista (pelo menos quando está comigo) porque não liga patavina ao que lhe digo. É que não liga mesmo. Pergunta-me como é que está o M. em termos de audição (mas para que é que pergunta se não lhe interessa o que vou responder?) e eu falo-lhe da evolução em casa e no colégio, na música a que ele reage como nunca fez, nas tentativas que faz para falar embora não se perceba o que diz. Ele simplesmente ignora o que digo e faz um mini-exame ao M. muito pouco científico em trinta segundos.

O otorrino conclui que não gosta do comportamento do M. e que quer que repita o exame dos potenciais auditivos. Eu fico fula porque digo-lhe que ouve, a educadora garante que ouve, e ele não quer saber. Digo-lhe que não quero repetir o exame porque assim vivemos em permanente angústia e que (mais importante ainda) a doutora que fez o exame garantiu que não era necessário repeti-lo, uma vez que os valores que não estavam completamente normalizados se deviam apenas à operação ser recente, que com o tempo a ligeira variação iria normalizar (ela foi muito assertiva no que disse). Entretanto, o M. dirige-se para a cadeira de passeio e tenta sentar-se (quer ir embora, claro) e eu, que tenho de fazer sempre de advogada de defesa do meu filho face a exames tão científicos :S por parte do otorrino, viro-me para o M. e pergunto-lhe:
- O dói-dói, M.? [Não me liga.]
- O dói-dói? [Insisto, e o M. olha para o cotovelo onde tem o seu primeiro dói-dói com direito a crosta.]
- Vai mostrar o dói-dói ao sr. doutor! [E o M. vai ter com o sr. doutor, olha para ele, ri-se e mostra-lhe o cotovelo, e fica à espera que o doutor lhe dê um beijinho. Que deu porque eu disse-lhe que o M. queria. Caso contrário, nem se mexia. A sério que este médico me faz confusão, porque critica o comportamento do M., mas o comportamento dele também não é o melhor. Quer dizer, a criança vai 'toda dada' ter com ele, de cotovelo em riste, e ele não faz de conta mas quase. É assim que ele lida com uma criança de dois anos? E se o meu filho fosse daquelas crianças que nem entram no consultório porque têm medo e fartam-se de chorar porque não podem ver 'batas brancas à frente', se calhar o sr. doutor concluía logo que estava perante um caso de esquizofrenia... E no fim, estão a ver eu a dizer ao M. para dar um passou-bem ao doutor e o doutor nem lhe estende a mão? O meu filho sai a mim, e só estende a mão quando a outra pessoa também a estende, bolas, e o médico nem se mexeu, para variar. Juro que só de pensar que tenho de lá voltar, sinto náuseas. Primeiro, o otorrino diz que se o meu filho tiver outro problema que não auditivo, não é da competência dele e tenho de falar com o pediatra. Depois, volta e meia, dá a entender que o meu filho tem isto ou aquilo, subtilmente (ou não, depende da perspectiva). Porra, que eu já lhe disse que falei com o pediatra e até já lhe disse mais do que uma vez o que o pediatra disse, e que estou atenta, e até já marquei consulta com um neuropediatra (mas desta consulta nem lhe falei nem vou falar porque, desculpem lá, se ele não tem nada a ver com as outras áreas, não tem nada a ver com as outras áreas). Basicamente, o que o sr. doutor acha é que, não tendo um problema auditivo, o meu filho tem à viva força que ser autista. E eu não digo que não seja, mas prefiro deixar esse diagnóstico para alguém que seja especialista no assunto. Ou então, fio-me no que o otorrino acha e concluo que é autista e poupo 100 euros na consulta do neuropediatra que só consegui marcar para Setembro porque o médico está de férias e nem acordo com o seguro tem. Bolas! Primeiro o meu filho tinha uma surdez neurossensorial severa a profunda. Não tem! Agora é autista. E eu pergunto: se a educadora e o pediatra, que conhecem o meu filho melhor do que ele e lidam com crianças a toda a hora, acham que o M. está a evoluir e que não lhes parece ser um caso de autismo, como é que o otorrino tira outras conclusões tão facilmente? É que é o 'Segredo' ao contrário! Pois que devemos sempre procurar ser tratados por médicos que nos transmitam confiança e que sejam positivos, que 'trabalhem connosco', e não contra nós. Neste caso, deixo no consultório dele a minha energia e venho para casa com a energia negativa dele. Sou eu que, parafrasenado o peditra, lhe tenho de dizer: 'Vamos dar-lhe tempo!'] Tenho o direito a não querer ir a um otorrino tratar de ouvidos e acabar com o fantasma do autismo sempre em cima. Se fosse a primeira consulta, ainda vá que ele desse a dica, porque eu podia ser uma pessoa pouco informda e nem saber o que era, mas, caramba, já não é a primeira consulta (será que tenho de lhe atirar com um nada político 'já disseste!'?).

É claro que eu, que já tenho de fazer um grande esforço para aguentar tudo, venho abaixo.
A auxiliar da sala do M. veio dizer-me para ir a outro otorrino, para não ir mais a este, e que ela concorda com o pediatra. Mas não vou a outro otorrino, pelo menos para já, porque foi este que o operou. Para não dizer também que a outros otorrinos já eu fui, e não me apetece andar a saltar mais, e se a cirurgia já foi feita, não há muito que vá fazer a outro. Pelo meio, fiquei a saber que o tubinho do ouvido direito já não está no sítio, saiu do tímpano e, portanto, já não está a fazer efeito. Daí as dores que o M. teve durante 2-3 dias e a secreção amarelada/acastanhada que apareceu na cama dele, foi tudo devido ao tubo se ter deslocado. O tubo do lado esquerdo mantém-se e ambos os ouvidos estavam bem, secos como se quer.

O pior disto tudo, já sei que parecendo uma adolescente em crise, é que ninguém me ouve, ninguém me compreende, ninguém quer saber. *****!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Anatomia de Papá

O M. e a M. voltam hoje de uns dias de férias. Uma espécie de férias forçadas, porque o papá foi operado ao nariz da terça-feira e está a recuperar.

A operação correu bem, mas o pós-operatório está a ser mais difícil do que o esperado, já que além da remoção de sinéquias e de dois pólipos, acabou por ter de fazer também a correcção do desvio do septo (não estava previsto, porque o devio não era significativo, mas teve de ser, senão o médico não conseguia chegar às sinéquias).

Hoje, o papá já foi ao otorrino para remover umas enormes esponjas que lhe tapavam o nariz todo e o impediam de respirar. Espero que agora, finalmente, comece a conseguir comer. Para a semana, vai remover o silicone do lado esquerdo, e uma semana depois vai remover os dois silicones do lado direito. Só espero que depois de isto tudo, fique com o problema resolvido!

Parece que hoje dá o último episódio da Anatomia de Grey. De certeza que não o vou conseguir ver, deixo para amanhã. Para quem ficar triste porque está no fim e que saudades que vai deixar e ai que gostava tanto de ver os Mc não sei quê e tomara que haja mais uma série e ai que tristeza como é que eu vou arranjar uma série que me faça chorar assim e blá blá blá... Não se preocupe porque tem sempre: o meu blog! É que não há meio de falar noutra coisa aqui, é só médicos, exames, medicamentos, cirurgias e afins. Xiça... :S
[E eu nem conto tudo. Ainda hei-de postar sobre o resto, mas aviso já que é assunto que nunca mais acaba. Acho que há médicos com menos experiência que eu em pediatria e otorrinolaringologia. Sinceramente, já merecia um doutoramentozinho Honoris Causa ou então podiam convidar-me para cronista/crítica na área de medicina, podia ter uma coluna num semanário qualquer e opinava e atribuía estrelas de uma a cinco aos médicos e às instituições. :P]

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Objectivo cumprido

Hoje fui fazer a minha inscrição de dadora voluntária de medula óssea. Finalmente consegui ir ao encontro de uma brigada do Centro de Histocompatibilidade do Norte, e lá preenchi o inquérito e fiz a colheita de sangue. A enfermeira, novita, tinha mãos de fada, já que senti absolutamente nada!

Não resisti...

[fotos retiradas]

O M., com pouco mais de 11 meses, ainda com poucos dentes (agora já tem quase todos) e a tentar 'assaltar' a máquina fotográfica. Tem os olhos ainda maiores e mais pestanudos, e está cada vez mais manhoso e refilão (começa a 'mandar vir' connosco quando nos zangamos com ele, só visto :P).

terça-feira, 7 de julho de 2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Já não posso com médicos, exames, análises e outras coisas assim giras

ou
Eu até gosto de ver as séries que se passam em hospitais e tal mas isto já enjoa.
ou
Aqui vai mais um testamento, podem ir lendo durante as férias ou ao deitar para adormecer.
ou
Isto é mais para organizar as minhas ideias, que já não sabem bem onde encaixar.
ou
Sinto-me como se tivesse ganho o Euromihões mas ainda não tivesse levantado o prémio.

Sobre o exame dos potenciais evocados:

Fizemos uma longa viagem com o M. a querer dormir e eu, no banco de trás, a não o deixar fazer. Chegámos ao destino, esperámos, entrámos para a sala de exames, eu e o M.

O pai e a mana ficaram à espera, foram à discoteca ver CDs e lancharam bolas de Berlim e outras coisas do género. (Mais uma vez, ironicamente,) na pastelaria onde, há quase seis anos atrás, fomos lanchar antes de levar da maternidade, para casa, uma bebé com seis dias, depois de um período de internamento muito complicado. Isto tudo enquanto aqui a mãe estava aflitinha para ir ao WC, cheia de fome e sede, e a tentar adormecer uma criança irrequita, cheia de sono mas com mais vontade de explorar do que de dormir.


O M. fugia-me levando o termo do biberão de leite com ele. Queria ver os consultórios e andava à procura da assistente da Dra. que fez o exame. Lá peguei nele para beber o leite e ele disse 'titi!' (quando quer, fala) quando eu estava a abrir o termo. Depois, queria mais brincadeira, claro. Brincou com aquelas argolas de enfiar tipo pirâmide. As maiores lá ia pondo, mas chegando às mais pequenas, mais confusas, não fazia correctamente. [E como eu gosto que ele não faça tudo correctamente e em cinco segundos. Preocupava-me é que fizesse esse tipo de jogos com uma perna às costas, quando não liga patavina à linguagem.] Corrigia-o e dizia-lhe qual era a argola seguinte, e ele tirava a que tinha posto e punha a correcta. Mas isto durou pouco porque ele queria era 'laureá-la', nem pensar em sossegar e adormecer. Por isso, a medida drástica (para evitar uma anestesia geral) foi colocá-lo no carrinho de passeio e embalá-lo (com o sono que estava, sabia que ia adormecer depressa e profundamente). Assim foi, quer dizer não foi muito depressa que ele queria sair de lá, mas até correu bem.


O exame ainda foi longo, mas o M. cooperou. Quando parecia estar a despertar, embalava-o e voltava a ficar quieto. Tinha fios pela cara toda (bochecha, atrás das orelhas, etc.) e dentro dos ouvidos.


A meio do exame, fiquei muito tensa, porque a Dra. olhava para a assistente e fazia uma expressão pouco animadora. Depois, pedia-lhe que visse se os auscultadores estavam bem colocados nos ouvidos, pedia-lhe que os ajeitasse, e a assistente dizia que estavam bem. Parecia que alguma coisa estava mal.


No fim percebi o que era. É que, pelos vistos, a Dra. já tinha falado ao telefone com o otorrino ou com alguém da parte dele. E recomendou (como já me tinha dito a mim) que o exame só fosse feito um a dois meses depois da cirurgia, para que os resultados fossem fidedignos. Mas como o otorrino suspeitava que houvesse uma lesão neurossensorial, queria saber já para poder colocar próteses rapidamente. Assim, o exame foi feito pouco mais de uma semana depois da cirurgia, pelo que o exame acabou mesmo por ser influenciado pelos efeitos da cirurgia, mas sem grande relevância para o que queríamos avaliar.

A Dra. tranquilizou-me logo e disse que não há surdez neurossensorial. Isto foi claro no exame. Aí descomprimi. Disse que colocou no relatório que existe uma surdez ligeira a moderada (mas que o moderada quase que está a mais, porque só há um valor numa frequência que está a esse nível), por isso basicamente é ligeira. Trata-se de uma surdez de transmissão e, segundo ela, vai normalizando à medida que o tempo vai passando. Disse que faz colocação de próteses e que nunca recomendaria a sua colocação a uma criança com um exame daqueles, porque os valores alterados são consequência da cirurgia ser recente e o ouvido ainda não estar a 100%. Disse-lhe que o M. ainda coçava muito as orelhas (agora já o faz menos) e que o otorrino justifica como sendo os tubinhos que causam alguma impressão/comichão. Ela concordou e disse que isso é um sinal de que ainda não está tudo restabelecido e que um exame daqueles nunca devia ser feito antes de 15 dias após a cirurgia, mas que o melhor era um mês, idealmente mais ainda. Disse que podíamos repetir o exame mais tarde mas que não acha necessário, que no nosso lugar não pensava mais nisso, e que se fosse necessário falava com o otorrino para lhe explicar as suas conclusões. Já falei com o otorrino ao telefone e ele concorda com a Dra., também disse podemos ficar todos mais descansados.


O M., esse, acordou após o exame e pôs-se a 'namorar' a assistente. Porque basta alguém, principalmente se for mulher, dar-lhe alguma 'trela' e ele não desgruda. Faz a festa toda.


Despedimo-nos, com a indicação, mais uma vez, para não nos preocuparmos. Fomos para o carro, pagámos 10,50 euros por menos de quatro horas de estacionamento (!) e viemos para casa mais leves na bolsa e no espírito.



........



Ontem, antecipámos a consulta dos dois anos com o pediatra, para lhe dar conta dos resultados do exame e para ele ver o M., pois já não o via há algum tempo. Agora, é raro o M. ficar doente, mesmo tendo voltado para o colégio e mesmo quando quase todas as crianças da sala ficaram doentes, tem resistido bem.

O pediatra acha que o M. não tem nada patológico. Diz que não acha necessário ir a uma consulta de desenvolvimento, ir só se daqui a seis meses não notarmos melhorias. Diz que o facto de ter estado muito tempo em casa (quase enclausurado, acrescento eu), ter ido para o colégio pouco tempo e ter voltado para casa, e ter estado sem ouvir bem durante muito tempo, justifica este atraso no desenvolvimento, mas que não está propriamente fora da normalidade. Diz que temos de lhe dar mais tempo e que precisa, agora, de muito colégio. [Eu concordo e lembrei-me de um miúdo da sala da M. - cinco anos - que só foi em Setembro para o colégio, porque esteve sempre com o pai na oficina, e quase que nem se percebia o que dizia. Em certas crianças, o colégio faz mesmo muita diferença.]


Quando eu disse que o otorrino sugeriu que falássemos com o pediatra para fazer a despistagem de alguma doença neurológica, incluindo autismo, o pediatra não conteve uma expressão de surpresa/riso. Disse que o M. não fala, mas interage, e que não ouviu bem durante muito tempo e que isso pode explicar todas as 'alterações' de comportamento que tem. Eu acho que o otorrino é hipocondríaco e acho que a Dra. que fez o exame e o pediatra também pensam o mesmo.

Desde bebé e até agora, as melhores palavras que descrevem o M. são 'relações públicas' (dizemos nós na brincadeira), simpático e bem disposto (diz a maioria das pessoas que se cruza com ele na rua, porque o M. mete-se com elas). Se está só ou com uma/duas pessoas, é quase certo que começa a 'deprimir-se'; por outro lado, se está num clima de festa, com música, dança, muitas pessoas e animação, delira. Eu acho que ele precisa de muitos estímulos, novos e diferentes, gosta de explorar e de novidades. Está mal (apático) quando está em ambientes 'seca'. Nota-se que ele gosta e tem necessidade de comunicar, só não o faz pela fala. O pediatra diz que ele ainda está um pouco abebezado e que lhe parece ser só isso.

Ontem, por exemplo, no curto percurso desde o carro até à clínica, passámos por duas senhoras e meteu-se com as duas. Disse-lhes coisas incompreensíveis, mas que eu acho que seria a cumprimentá-las. Uma espécie de 'boa tarde, como estás?'. Depois, avistou uma criança de um ano, ano e meio, e começou a sorrir. Quando passou por ela, esta estava a papaguear 'olhá olhá', e o M. deve ter pensado que era para ele. Parou, olhou para o miúdo e riu-se.

Quando chego com ele ao colégio, costuma ir ao balcão da secretaria e tenta saltar e subir, para poder espreitar a menina da secretaria. Se o ponho em cima do balcão, fica contente e tenta ir para o chão do outro lado. Há dias, quando ele estava a fazer isso, a menina disse-me, muito sorridente (e ela até um tanto ou quanto deprimida), que o M. vai lá visitá-la todos os dias. É conhecido no colégio por ser muito bem disposto, sociável, nada conflituoso, comer e dormir bem. Educadoras e auxiliares metem-se sempre com ele, e acho que o fazem por não ser uma criança dada a 'melindres', aceita bem qualquer tipo de brincadeira, é um bon vivant. Adaptou-se muito bem ao colégio, tanto da primeira como da segunda vez. Até bate à porta da salinha para entrar. Faz as suas birras, mas, regra geral, está sempre bem. Adora o parque e a sala dos bebés.

Um ou dois dias depois da cirurgia começou a dançar ao som da música. Já dançava, mas fazia-o por imitação, quando via os outros, ficando nós sem perceber se ouvia os sons. Agora, fá-lo espontaneamente. Na noite de 12 de Junho, fomos a uma espécie de festa de santos populares '3 em 1' (os três santos). Havia música, ninguém estava a dançar, e o M. começa abanar-se. Também queria saltar a fogueira pequena que as crianças estavam a saltar e, quando pegávamos nele para passar por cima, ria-se que nem um perdido. Adorou. Festa, lá está. Na mesa dos comes e bebes, estavam pacotes de sumo - o M. apontou e disse 'titi'. Ontem, ao fim do dia, fomos aos carrocéis e o M. andou. No fim, claro, não queria vir embora.

Começamos agora a descrobrir que é extremamente teimoso e desafiador. A educadora confirma. Por exemplo, sabe que não pode mexer nos botões do forno ou das máquinas. Mas vai lá, nós dizemos 'não' e ele pára, olha para nós de soslaio, ri-se e tenta mexer outra vez. Traquina mesmo. Provoca-nos e quando voltamos a dizer 'não' ri-se às gargalhadas. Pelo meio faz-nos uns olhares matreiros, sabe bem que está a fazer asneira. Andámos muito tempo com o discurso 'ah coitado que não ouve, deixa-o lá bater e atirar com o que quiser, ah coitadinho que tem que se distrair com alguma coisa' e agora está um libertino. :P

Ainda assim, há uma coisa que ele faz que nos preocupa. Parece que de vez em quando tem 'ausências'. Parece desligar por uns momentos e depois passa-lhe. Geralmente nota-se mais isso quando está preso na cadeira da papa ou na cadeira do carro ou no carrinho, quando está aborrecido sem nada para fazer e sem ninguém a interagir com ele. Associado ao facto de ter passado muito tempo sem ouvir, pensamos que acaba por ser apenas uma característica dele. Lá está, o pediatra acha que não é patológico. Diz que poderá ainda ser um 'tique' associado aos problemas auditivos que teve. Qualquer das formas, e como insisti um pouco nesse assunto, o pediatra achou por bem mandar o M. fazer um electroencefalograma. Diz que ausências de três a quatro segundos, em que a criança pára e depois volta ao que estava a fazer (não noto propriamente que o M. deixe de fazer alguma coisa, acontece mais quando já está inactivo), podem ser sintomas de epilepsia. Não lhe parece, pela nossa descrição, que seja o caso do M., mas como se trata de um exame não invasivo e que despistará esse problema, vamos fazê-lo. Vai ser já depois de amanhã e vai com a mesma indicação de estar cheio de sono para dormir durante o exame.

É claro que eu tento não me preocupar e acreditar que o pediatra tem razão, que não é nada patológico, mas não deixa de ser uma suspeita, mais uma. E eu já não consigo mais com suspeitas... Qualquer dia fundo uma Polícia Judiciária. :S E não posso deixar de me interrogar sobre o que mais é que virá a seguir! :S

Não é fácil estar constantemente num cenário de ter um filho talvez-surdo-ou-talvez-autista-ou-talvez-epiléptico-ou-talvez-tudo-junto-ou-talvez-nada-disso-e-andamos-é-a-viver-em-Hollywood-num-filme-bem-burlesco. Bem sei que problemas auditivos, mesmo que ligeiros, em crianças muito pequenas, podem provocar grandes perturbações ao nível da fala, do desenvolvimento e do comportamento, mas nunca pensei que pudesse chegar a esta dimensão.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Até nem apostei

mas hoje saiu-me o Euromilhões.

[Preciso de umas férias.]

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Brother & sister

A educadora do M. diz que notou uma grande diferença no M. depois da operação. Perguntou se nós não notámos. Diz que fala com ele como fala com os outros meninos, e o M. percebe o que ela quer e faz. Diz que já não precisa de puxar pela voz, deixou de ter de gritar. Quando o M. fugia para o parque, ela tinha de chamá-lo várias vezes e muito alto até que ele ouvisse, agora chama-o como chama os outros e ele ouve. Diz 'vamos fazer um desenho!' e o M. vai. Pede brinquedos apontando para o que quer (quando estão nas prateleiras), brinca muito às comidas e até lhes vai mostrar o prato e os talheres, gosta de se enfeitar com fitas no cabelo (em casa também o faz, influências da mana), e veste e despe as bonecas.


Pedi à educadora para espreitar o M. quando ele estava na sala, sem que ele me visse. Queria ver o seu comportamento. A educadora disse à auxiliar para se sentarem todos juntos e para dar um brinquedo ao M. Deu-lhe uns copos empilháveis. O M. começou a brincar, todos os meninos puseram-se à volta dele a observar, um deles tirou um copo ao M. e o M. tirou-o de volta. Depois dispersaram. Um menino foi ter com o M. para lhe tirar o copo que tinha na mão e o M. ficou na dele, mas quando a auxiliar disse 'vai tirar o copo ao A.!', o M. foi ter com o A. e tirou-lho. A educadora acha que o M. está a par dos outros a nível cognitivo e social. Só não fala.


Em casa, o M. tem estado muito mais atento à televisão, principalmente aos bonecos, à menina russa e aos... políticos e afins. :S Imita os políticos a falarem (na linguagem dele) e faz os mesmos gestos (acena com o dedo indicador e cerra os pulsos) para dar ênfase ao que está a dizer. lol Nunca tive muita necessidade de ralhar com o M., mas como ele está a crescer e até pode não ouvir bem mas tem de conhecer os limites, por vezes zango-me com ele. Ele fica sentido, enerva-se e cerra os pulsos e os dentes um bocadinho, para libertar a 'raiva'. Mas passa-lhe depressa, porque não consegue ficar sério muito tempo. Quando se deita no chão a fazer birra (coisa rara também), dura uns cinco segundos porque olha para nós, desata a rir, levanta-se e arranja algo com que se ocupar.


Ontem, quando saímos do colégio, a mana começa a fazer uma dança muito esquisita, tipo selvagem (ela é assim lol) e a emitir uma espécie de sons à homem das cavernas. O M. começa a dançar como ela e... emite exactamente os mesmos sons! À noite, pareceu-me que o M., quando estava a adormecer, estava a ouvir o som da etiqueta da fralda de pano. Ele mexeu na etiqueta sem querer e, como estava tudo silencioso, aquele som baixo era fácil de identificar - pareceu mesmo que ele ficou atento ao som. Também parece que tem prestado atenção ao barulho do papel quando está a ver os catálogos e as revistas. E pega na embalagem (metálica) da água do mar, tira-lhe a parte de cima de plástico e começa a bater uma na outra. O som até é um pouco seco e 'leve', mas ele gosta de fazer isso e ri-se de satisfação. Ainda ontem à noite, ele pôs os copos de plástico dele e da mana em cima da mesa, mas eles tombaram, rolaram e caíram ao chão. Fizeram barulho, claro, e o M. assustou-se. Já repetiu o 'anda!', dirigido à irmã e acompanhado pelo respectivo gesto, quando ele estava entre mim e ela, e ela não obedecia ao meu 'anda!'. E a auxiliar da sala do M. diz que o chamou para mudar a fralda e que ele disse uma palavra que lhe pareceu ser o nome dele. São tudo bons indícios, claro, mas o meu marido diz que eu sou como o otorrino... céptica. Admito que sim, mas não quero (des)iludir-me.

O certo é que ele está muito mais presente, mais cá, mais atento, mais comunicativo. Tenta falar na linguagem dele, utilizando entoações diversas e gestos. Até vai dar estaladas à irmã, coitada (ela não se importa muito, ele não a magoa, mas não pode ser), quando ralho com ela.


A mais velha está grande, muito grande, e com a mania de que sabe falar inglês (e até sabe). Agora anda a dizer os nomes das divisões da casa e dos membros da família em inglês (o mano é baby e brother). Ontem à noite perguntou-me se podia ir para a living-room. Confesso que tive de pensar um pouco antes de responder, pois não estava à espera de uma frase poliglota. ;) Tem seis namorados (devem ser os rapazes todos da sala e eles confirmam) e diz que ainda vai ter mais porque tem de ter muitos, tem de ser a que tem mais, basicamente tem de ganhar. Ela tem de ser sempre a maior e a mais forte, mesmo que isso implique atitudes socialmente menos correctas como ter um número infinito de namorados. Estou tramada. :P

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ponto da situação

O M. foi operado na passada terça-feira, há quase uma semana portanto. A cirurgia correu bem, foi de manhã, e à noite já estava em casa. Dormiu a noite toda. O acordar depois da operação foi um pouco complicado e incluiu uma veia a deitar sangue tipo esguicho, porque o cateter saiu, e eu a estancar o sangue com a fralda de pano do M. Não foi bonito. :S

O otorrino passou no quarto por volta da hora de almoço e queria ver se o M. já ouvia melhor. O M., se já dorme muito, então com uma anestesia em cima ainda dorme mais, e é claro que não ia acordar. Ainda se tentou levantar e disse qualquer coisa na linguagem dele acompanhando com uma explicação com as mãos, mas depois disso 'caiu redondo' na cama. Eu acho que ele nos estava a ouvir a falar e levantou-se para 'falar' também, mas não conseguiu porque estava perdidinho... Enquanto continuámos a falar, ia abrindo os olhos, mas depressa voltava a adormecer.

Ficou um dia em casa e já estava farto. Ia buscar os meus sapatos para ir à rua, pegava nas chaves e coisas assim... Por isso, na quinta-feira foi para o colégio, com autorização do otorrino. Nada de dietas. No primeiro dia foi mais à base de líquidos frios, mas dei-lhe miolo de croissant à sucapa, que ele estava cheio de fome e pedia. No dia seguinte já estava tudo normal.

Descobri que ele reconhece uma galinha. Faz 'põe, põe' com o dedo e a mão quando vê uma (em desenho) e diz 'p,p,p'. Tem dançado ao som da música no colégio e em casa. Não nos parece que seja por 'imitação', parece ouvir. Já lhe saiu um 'anda' dito à mana e outro ao pai. No caso da mana, eu estava com ele à beira das escadas para irmos jantar, e eu estava a dizer 'anda M.!' à irmã; só que ela não vinha porque estava a brincar; ele largou a minha mão, foi ter com ela e disse um 'anda' que me pareceu quase perfeito. Com o pai, a situação foi idêntica e ocorreu hoje de manhã, quando o M. queria que o pai fosse com ele. Não sei se ando a imaginar coisas, mas que foi uma palavra parecida com 'anda', foi. A educadora diz que agora ele reage sem ser preciso falar tão alto como antes. Diz que o manda colocar a presença dele no quadro, conforme manda aos outros, e ele vai logo. Antes da cirurgia, em três dias diferentes acordámo-lo com estalar de dedos, em diferentes intensidades, e ele acordou sempre. Numa das vezes, com um único estalar de dedos mais sonoro, até saltou da cama com o susto.

Hoje de manhã, fomos à consulta pós-cirúrgica. O otorrino disse-lhe 'olá' e o M. não lhe ligou. O otorrino acha que o M. não o ouviu. Eu acho que ele estava era distraído a fazer 'olhinhos' à funcionária que (ainda) estava do lado de fora do consultório. Depois, como eu disse que o M. tem reagido ao toque do meu telemóvel, o médico telefona-me. O M., que estava a ler o seu livro, faz uma cara diferente mas continua nos seus afazeres. O médico conclui que ele não ouve, pois claro. Eu acho que o M. acha uma seca estar lá e quer é vir embora. O otorrino lá se meteu com o M. e aí ele riu-se (finalmente uma coisa divertida, deve ter pensado), depois dei-lhe o meu telemóvel e começou a 'falar' colocando-o ao ouvido.

No final da consulta, o otorrino disse 'xau, M.!' sem fazer gestos e o M. levantou logo a mão para acenar (como quem... 'finalmente!'). Ninguém reparou se o M. estava a olhar para o otorrino quando ele falou, mas achamos que não, que ele até estava a olhar para baixo. O otorrino disse outra vez e o M. voltou a acenar. Conclusão do otorrino: 'ele pode saber ler os lábios'. Ok, aqui só me apetecia dar-lhe uma marretada! Já fartinha, virei-me para o M. e disse 'dá miminho à mamã!'. E ele esticou a mão (estava no carrinho de passeio) para me fazer um miminho, não descansando até eu me baixar para me passar a mão pela cara. Será que ele também leu nos lábios uma frase dessas, ainda por cima pronunciada relativamente depressa? E 'xau', lido nos lábios, não podia ser outra coisa qualquer que não xau? E quando acorda com o estalar dos dedos está a ler o quê, a 'Maria'? Qualquer das formas, o otorrino disse que já estava mais contente quando o M. teve estas reacções. Pois, é que o M., ouça bem ou menos bem, não deixa de ser criança, reagindo apenas àquilo que lhe interessa ou desperta a atenção...

Acho que o médico queria que o M. acordasse da cirurgia e dissesse logo 'olá sr. doutor, como tem passado?'... Nós continuamos com muitas dúvidas sobre o nível de audição do M., mas é verdade que ele está melhor. Por exemplo, ontem ele estava sentado na cadeira da papa, de costas para a porta da cozinha, e esta emite um 'estalinho-daqueles-que-a-madeira-faz-quando-está-muito-calor', e o M. vira-se logo para trás. O som não foi alto, mas foi um som diferente, que provavelmente despertou a atenção do M. Parece que o otorrino está à espera que o M. esteja sempre a virar a cabeça para tudo o que é sítio de onde tenha vindo som. Se o M. já conhece o som do meu telemóvel, não pode simplesmente não lhe ligar porque já o conhece, não é nada novo ou interessante? E quanto ao ler lábios, já disse 'miminho' ao ouvido do M. e ele fez. No fim-de-semana, o M. estava a brincar no quarto e eu disse-lhe 'vamos, anda e outras coisas que tal'; não me ligou, mas quando eu disse 'vamos ao papá!', deixou de fazer o que estava a fazer e foi ter com o pai. (Não leu os lábios, acho que até estava de costas.) Por isso, ou são tudo grandes coincidências ou o M. até ouve melhor do que pensamos.

A minha empregada diz que tem um irmão que só começou a falar aos quatro anos. Diz que só apontava para o que queria e nada dizia. Depois, começou a falar e correu sempre tudo bem. Eu acho que o M. é um bocado 'parado', principalmente quando está mais sozinho. Ele gosta é de estar com muita gente, é sociável e comunicativo (olha muito nos olhos, ri-se, faz gracinhas, passa a mão nas pernas das raparigas ;), chama a atenção das pessoas de várias formas), mas, ao mesmo tempo, sempre foi muito dorminhoco, calmo e observador. E se está empenhado em qualquer coisa, não nos liga, parece que não nos está a ouvir nem a ver (e não posso concluir que seja cego porque não liga aos meus gestos). Por outro lado, se interrompo o que ele está a fazer, não 'stressa', até se ri e começa a fazer gracinhas. Continuamos com a hipótese de autismo, mas tanto a mim como à educadora parece-nos quase impossível que seja isso, porque as únicas 'pistas' são ele ainda não falar e parecer não ouvir bem. O otorrino diz que há crianças muito enérgicas e há outras que são mais calmas, mais contidas, que se distraem muito, por uma questão de temperamento apenas, mas que é necessário averiguar se há alguma lesão auditiva (ou doutro género) para ficarmos tranquilos. E nós concordamos.

Sendo assim, o próximo passo é fazer um exame em que o M. tem que estar a dormir (naturalmente ou com anestesia) para analisar o seu potencial auditivo. Vamos fazê-lo na sexta-feira à tarde.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Contradições e resoluções

Por que é que não vou procurar mais opiniões de otorrinos? Porque já pedi três opiniões, porque foram as três divergentes, com as duas últimas a serem diametralmente opostas, porque isso implicaria deixar passar mais tempo e já passou tempo suficiente, porque o meu filho tem mesmo de tirar o líquido que tem nos ouvidos.

Enquanto não retirar o líquido e colocar os tubinhos de ventilação, não saberemos se a audição está afectada e, em caso afirmativo, até que ponto. E só depois de retirar o líquido é que se pode fazer o exame dos potenciais auditivos, que nos dirá até que ponto ele ouve. Até aqui há contradições! Segundo o otorrino, este exame pode ser feito uns dias depois da cirurgia. Eu, que não consigo ficar com dúvidas em cima de dúvidas, liguei para o local onde realizam o exame e falei directamente com a técnica que faz o exame. [Mais uma ironia do destino, o local fica na zona onde a minha filha mais velha nasceu e ficou internada.] Ela diz que até se pode fazer o exame no dia da cirurgia, mas não recomenda. Recomenda que se deixe passar um a dois meses, para que os resultados não possam ser 'falseados'. Diz ela que se houver alterações no exame, ficamos sem saber se é porque é assim mesmo, ou se é porque a audição ainda não está completamente restabelecida. O único exame que o M. fez, até agora, foi o timpanograma, e já fez vários. É o que se consegue fazer com a cooperação de uma criança desta idade.

Sendo assim, temos mesmo que dar este passo da cirurgia para retirada do líquido. O M. já foi fazer as análises ao sangue e já fez radiografia para ver as adenóides. [Nem me vou alongar muito sobre a radiografia... É mais um filme. O radiologista concluiu que o M. não tem hipertrofia das adenóides, mas o otorrino garante que tem. Porque tem a ver com a posição inclinada em que a criança estava e blá blá blá. Percebi a explicação e quero acreditar que tem razão.] Depois veremos como reage.

O que me consome são as incertezas e os tempos de espera, daí também não querer consultar mais nenhum especialista. A fazê-lo, faço-o depois da cirurgia. Aliás, vou deixar já marcada uma consulta no centro de saúde para se depois precisar de pedir uma requisição para o tal exame, fazê-lo nessa altura. Aí, se for necessário, peço também encaminhamento para a ORL de Coimbra. Se o milagre não vier ter comigo, vou eu ter com ele, a Coimbra, onde, pelo que já percebi, se fazem belíssimos 'trabalhos' com o implante coclear (desde que a pessoa tenha condições morfológicas para o receber). E espero que, a acontecer, ninguém me venha com os fundamentalismos de que um surdo tem que ser um surdo, deve utilizar apenas a Língua Gestual e a leitura dos lábios, não recorrendo ao implante. Respeito quem tenha essa posição, mas eu sempre achei que devemos utilizar o que de melhor a ciência nos oferece, e sempre gostei de inovações, fascinam-me. Pelo que tudo farei para que o meu filho desfrute do mundo e da vida na sua plenitude. O que não quer dizer que não aprenda a Língua Gestual - também. Aliás, trata-se de uma Língua que sempre quis aprender, por isso, se for necessário, vai a família toda aprender. Só que eu quero que o meu filho seja autónomo, desenrascado e despachado, como tem demonstrado ser, e, para isso, terá de utilizar todas as ferramentas à sua disposição para desbravar o mundo, porque ninguém vai fazer isso por ele.

O que eu queria mesmo era ter um diagnóstico já, para poder actuar já. Porque tudo demora o seu tempo, e um mês que seja na vida de uma criança tão pequena é muito tempo. Porque viver com o 'não saber' é um martírio. Porque a primeira infância é um tempo precioso em termos de aprendizagem.

Em relação ao autismo, como na surdez, há vários graus. Sei que há crianças autistas que têm um comportamento praticamente 'normal'. Ainda por cima, antes dos dois anos, é difícil fazer um diagnóstico definitivo. Esta dúvida coloca-se em relação ao M. em determinados momentos. Há momentos. Ele é muito meigo e muito sociável, mas há momentos em que não nos liga nenhuma mesmo que se emita um som ao qual ele costume reagir. É uma hipótese ténue, mas que tem de ficar em aberto.

Ontem, o meu cunhado chamou (normalmente) pelo M., que estava de costas, a brincar. O M. virou-se logo. Há cerca de uma semana e tal, eu e a minha sogra ensinámos o M. a fazer uma festinha na nossa cara quando dizíamos 'miminho!'. Aprendeu logo e, quando a minha sogra disse 'faz miminho à mamã!', quando lhe estávamos a trocar a fralda, ele fez logo. Desde aí, sempre que lhe dizemos essa palavra (e não precisamos dizer muito alto), ele faz uma festinha, mesmo que não façamos gestos nem lhe aproximemos a nossa cara. Ontem, também, o M. estava a ver uns cães e uns gatos de madeira e eu fazia 'miau miau' e 'au au', e ele fazia uma imitação desses sons, à maneira dele. E, depois, há certos momentos em que parece ouvir melhor, como a seguir a uma refeição em que ele mastigue muito. Dizem que mastigar alivia a pressão nos ouvidos, e isso parece acontecer com ele. O oposto também acontece: a seguir a dormir parece ouvir pior.

Por volta dos seis meses, o M. começou a puxar as orelhas. O pediatra nunca deu importância porque os ouvidos estavam bem e parecia-lhe que o M. ouvia. Por volta dos sete meses, fez uma otite no ouvido esquerdo, que passou com o antibiótico. Nessa altura, deve ter começado também a tosse (hiperreactividade brônquica). Acho que desde aí não deve ter havido um dia em que o M. não mexesse nos ouvidos, que foi passando de puxadelas a mexidelas e expressões de dor. O pediatra, que o viu regularmente (não deve ter havido um mês na vida do M. em que não tenha ido ao pediatra, por rotina ou porque a qualquer febrita o levava), dizia sempre que os ouvidos estavam bem. A tosse foi piorando, assim como as secreções nasais e as mexidelas nos ouvidos. Até hoje, sempre que a tosse piora (mas já está controlada com medicação), pioram as secreções e parece que ele ouve menos. Quando entrou para o colégio, tudo piorou: a tosse, as secreções nasais, o mexer nos ouvidos, mas também coincidiu com a chegada de um Outono húmido, frio e rico em viroses. O pediatra disse sempre que estava tudo ligado, que as mucosas do aparelho respiratório dele inflamam-se muito e libertam secreções. Os ouvidos foram priorando, até ao ponto em que sempre que ia ao pediatra estavam muito muito inflamados, e depois veio o líquido. A audição foi piorando progressivamente.

O M. sempre reagiu ao 'não!', mesmo estando de costas, mas foi preciso ir dizendo um 'não' cada vez mais sonoro. Diz 'olá!' desde os três meses e meio. Começou a dizê-lo sempre que apareciam apresentadoras a falar na TV e às pessoas que passavam na rua. Mais recentemente, foi dizendo 'olás' cada vez mais sonoros, parecia que se queria ouvir melhor e agora é raro dizê-lo. Mas, já a seguir às otites e a ouvir muito mal, aprendeu a dizer 'na na na na na', acompanhando com o gesto do dedo indicador a dizer que não. Dizem no colégio que há um miúdo que costuma fazer isso... Também percebe bem o 'anda!' e o 'vamos!' e quando não quer vir abana a cabeça e não sai do sítio. À televisão não liga grande coisa. Quando era mais pequeno, passavam vídeos de música na TV e ele dançava, depois continuou a fazer isso mas via-se que era porque ele já sabia que eram vídeos de música e não propriamente porque ouvia. Eu fico na dúvida se ele tem determindas reacções porque ouve ou se é porque junta dois mais dois e dá quatro. Mas há coisas que dão que pensar como os 'na na na na' pronunciados perfeitamente e no contexto correcto, e os 'bebé' repetidos depois de eu lhos dizer ao ouvido, e os 'dá' com a mão estendida. Os 'tou' ao telefone foi deixando de dizer, e continua a dizer uns resquícios de 'já tá' quando finaliza alguma coisa. E eu podia jurar que ele hoje acordou com o som da porta do quarto dele a abrir, porque vi-o a levantar-se ainda estremunhado, logo após a abertura. E que no outro dia ele pôs-se à procura da fralda de pano quando lhe perguntei 'onde está a fralda?'. E ouviu o meu sogro a falar com a M. no jardim, só não percebeu de onde vinha o som, porque andava à procura mexendo a cabeça; mas quando o meu sogro falou mais alto virou-se logo para o sítio onde ele estava.

O otorrino diz que há a hipótese de o líquido ser muito e dificultar-lhe muito a audição (já confirmou que é muito viscoso e que, por isso, vai ter de colocar os tubinhos), mas fala nisso como uma hipótese num milhão. O otorrino anterior dizia que era normal ele ouvir muito mal porque tinha muita pressão nos ouvidos e fez alguns tratamentos para 'tentar aliviar a pressão' (palavras dele). Na sequência de um desses tratamentos, o timpanograma deu alguma audição no ouvido direito, e parecia que nessa altura o M. estava, de facto, a ouvir melhor. A educadora até comentou isso comigo. Acho que deve ter sido por aí que aprendeu o 'bebé'. Agora, os timpanogramas estão péssimos. Para já, não sabemos se esta otite serosa é uma 'causa' ou se é um 'ruído' que nos levou noutras direcções que não a certa.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Qualquer dia desintegro-me

O M. vai ser operado daqui a pouco mais de uma semana. Vai cortar as adenóides (pelos vistos não são demasiado grandes, mas são suficientemente grandes para estarem a causar problemas), retirar o líquido dos ouvido e colocar tubos de ventilação. O exame para avaliar a perda auditiva terá de ser feito sob sedação e não será aquando da cirurgia, por ter de ser feito num centro especializado. No centro aqui da zona afinal só fazem a adultos, pelo que, provavelmente, teremos de nos deslocar a outra região.

O otorrino está convencidíssimo que o meu filho tem uma surdez muito grave, que não pode ser causada só pelo líquido. Já falámos em aparelhos auditivos e, se o pior se comprovar, em implantes cocleares colocados cirurgicamente. E eu saio das consultas como se um camião tivesse passado por cima de mim. Confusa, desanimada, angustiada e frustrada. A perguntar-me o que é que andei a fazer este tempo todo nos médicos; ninguém desconfiou que ele teria uma surdez grave mesmo quando eu me queixava que ele ouvia muito mal?

O otorrino anterior dizia que era normal ele ouvir muito mal por causa das otites e do líquido, e por estar a acontecer na fase de aquisição da linguagem. Disse-me sempre para não me preocupar, que ele podia ficar com algum tipo de sequela mas que nunca seria algo muito grave. Agora, este otorrino pinta o cenário mais negro que se possa imaginar. Diz que o meu filho não reage nas consultas. Mas o certo é que das duas vezes estivemos mais de uma hora à espera, estávamos todos fartos de lá estar, só queríamos vir embora e, claro, o M. 'divaga' mais do que o habitual. É certo que o M. não reage à maior parte dos estímulos sonoros, mas também é certo que a sua reacção é muito variável. Por exemplo, andava a explorar a consultório, o médico chamava-o e ele não ligava nenhuma, mas, pudera, estava empenhado noutra coisa. Depois, o M. foi à beira do médico para mexer no portátil dele, o médico chamou-o e o M. olhou logo para ele. Mas o otorrino acaba por relativizar, diz que o M. ouve os sons, sabe que é algum som, mas provavelmente não os percebe.

E eu a lembrar-me que ainda há pouco tempo estava com ele no escritório (ele a brincar) e eu disse-lhe 'anda, vamos à papa, vamos à papa'. Ele ficou indeciso, olhou para um dos brinquedos e disse 'papa', pousou-o, e correu à minha frente em direcção às escadas que dão acesso à cozinha. Também há algum tempo atrás, ao passar por umas fotografias que estão no corredor, dizia-lhe 'bebé, bebé' (a apontar para uma foto minha em bebé) e ele repetiu mais do que uma vez e em alturas diferentes. É uma palavra que ele nunca disse nem diz, mas comigo a insistir ele conseguiu dizer. Por isso, ele ouve sons mas não os percebe? É que não sei o que pensar... Inventou 'bebé'?

Em relação ao sono, o médico perguntou se ele acordava com barulhos e eu disse que não. Mas há muita gente que tem o sono muito pesado e dificilmente acorda com barulhos (ainda por cima, a minha casa não é muito barulhenta). Às vezes, nem mexendo nele ele acorda. Hoje de manhã, estava a dormir profundamente, até abri o estore e nada. Estava mesmo a dormir ferrado. Para testá-lo, estalei os dedos duas ou três vezes. Ele estremeceu à segunda e acordou à terceira. Tenho a certeza que ele acordou por eu estalar os dedos.

Ontem, quando íamos para a consulta, tinha o rádio ligado no carro, por isso havia ruído, e mesmo assim, o M. ouviu-me a espirrar (e não foi muito sonoro) porque ele, que ia na cadeirinha no banco atrás do meu, imitou-me como geralmente me imita quando espirro (não faz um 'atchim', faz uma espécie de tosse).

Com isto tudo, fico super confusa, porque quero saber o que é que se passa para poder mentalizar-me da situação e agir de acordo com ela. Mas há alturas em que ele percebe bem determinadas coisas e há alturas em que parece pouco ou nada perceber. Por exemplo, ele estava sentado na cadeira da papa a ver televisão, eu cheguei atrás dele e chamei-o muito alto (ele ouve naquela intensidade, de certeza). Mas não teve reacção! Não sei se é distracção, se é alheamento... Eu e a educadora dele já colocámos a hipótese de autismo, mas a educadora diz que é uma hipótese que tem vindo a descartar com o tempo, porque os 'indícios' estão todos relacionados com audição reduzida. Eu ainda não descartei totalmente essa hipótese, porque estou confusa em relação ao nível de audição do meu filho. Nuns dias é surdo profundo, noutros não?

Quando a minha filha nasceu, suspeitaram que ela tivesse uma doença genética metabólica. Esteve seis dias internada e eu vivi seis dias de pesadelo, a preparar-me para ficar com uma filha incapacitada para a vida, tal era o estado dela na altura. Hoje é a criança mais vivaça que conheço. Só que eu pensava que os raios não caíam duas vezes sobre a mesma árvore e enganei-me. Agora estou a viver bem mais do que seis dias de pesadelo, desta vez com o M., a oscilar entre uma perspectiva de surdez grave e uma pespectiva de autismo... ou, pior, as duas... E o tempo vai passando... E se ele precisar de um implante coclear? Há lista de espera e convém que seja feito o mais rapidamente possível para que os benefícios sejam maiores. E ainda falta a cirurgia, e depois o exame... E se o exame até dá normal lá vem a nuvem do autismo outra vez.

Por outro lado, já li tantos relatos na net (bem sei que o que se lê na net vale o que vale, mas algum fundo verídico há-de haver) sobre crianças que tinham otite serosa, o que lhes provocou níveis de audição muitos muito baixos e condicionou a aquisição da linguagem, e que normalizaram depois da cirurgia. Mas o otorrino também relativiza, diz que a otite serosa só causa perdas de audição reduzidas (só que eu já li tantos testemunhos a dizerem o contrário!). Acha que alguma perda de audição o M. terá, só não sabe se é baixa ou se é elevada.

Se um raio pode cair duas vezes sobre a mesma árvore, será que um milagre também pode acontecer duas vezes à mesma pessoa?

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Há dias assim, cinzentos

Já nem sei mais o que escrever.

A consulta no Otorrino (O Terceiro) foi hoje. E vim de lá com uma forte suspeita de que o ouvido interno esteja afectado. Pelo que, mesmo fazendo a tal operação - para retirar o líquido e as adenóides -, ele pode continuar a ouvir mal. Diz o médico que a audição só melhorará aquilo que a retirada do líquido ajudar.

É que ele está a ouvir mesmo muito mal, como já sabíamos. Como ainda não tem idade para fazer um audiograma (só fez timpanograma), é necessário fazer um exame sob anestesia geral. E só é viável fazê-lo se não existir líquido no ouvido médio. Porque, se existir, ficamos sem saber se os resultados do exame foram condicionados pelo líquido ou não. Assim sendo, vai fazer um tratamento com corticóide durante 12 dias, para ver se o líquido desaparece. Se desaparecer, faz-se o exame para avaliar a perda de audição. Se não desaparecer, tem de ser operado para lhe ser retirado o líquido e as adenóides. Logo se vê se coloca os tubinhos, e faz-se o tal exame nessa altura.

Voltamos à consulta daqui a três semanas, mais cedo se notarmos que o tratamento não está a resultar. Diz que não há necessidade de esperar mais, que não vai dizer para voltarmos em Outubro, que não é para amanhã mas é urgente. Que ele já devia falar ou, pelo menos, perceber o que lhe dizem. Diz também que quando há uma lesão do ouvido interno não costuma ser bilateral, mas que é uma forte possibilidade. Também pode ser que o líquido no ouvido médio seja tanto que o faça ouvir muito mal, mas não há uma forte probabilidade de que seja isso.

Se os nervos do ouvido interno estiverem afectados, nem com o uso de um aparelho auditivo a audição ficará a 100%.

Como é que eu estou? A balançar-me entre a interrogação 'O que é que eu andei a fazer todo o santo dia nos médicos - pediatra e otorrinos -, a dar dinheiro para caridade?' e, claro, 'O que é que fiz de errado?'. Os médicos dizem-me para não me preocupar, dizem-me para lá voltar meses e meses depois, dizem-me que está melhor, e eu vejo o meu filho a ouvir pessimamente. Dizem-me que a hipótese de sequelas é reduzida. E agora, afinal, o meu filho vai ficar surdo? Desculpem-me, mas apetece-me ir ali esfaquear uns senhores doutores... Eles depois tratam das sequelas uns aos outros.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Al dente


O primeiro dente caiu ontem, antes do jantar. Estava quase quase a sair. E eu, antevendo a situação, fui buscar a máquina fotográfica à divisão ao lado, para ver se conseguia tirar uma foto da M. ainda com o dente semi-preso.

Foi só o tempo de pegar na máquina e aparece-me a M., em pulgas, a exclamar que lhe tinha saído o dente! Não consegui tirar uma última foto. Snif... Depois tiramos várias fotos à desdentada e ao dente. Ela ficou em êxtase, que agora é 'moda' na salinha dela não ter dentes. ;)

Embrulhámos o dente num guardanapo da Kitty e pusemos debaixo da almofada. Durante a noite, a Fada dos Dentes, levou o dente e deixou duas moedas em substituição. Foi o delírio de manhã! E a M. discuuuuursa sobre a Fada dos Dentes, e inventa, e fala que nunca mais acaba. Aliás, está uma 'faladeira' e 'socialite' que só visto.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

De ouvidos bem fechados

E depois da pneumonia, o papá ficou com uma tosse do pior e arranjou uma virose (?) que durou uma semana. Foi a gota d'água. Consegui antecipar a consulta de pneumonologia/alergologia que tinha marcado para ele. O médico deu-lhe uma catrefada de medicamentos, mas todos eles (pelo que temos verificado) úteis. A tosse passou quase imediatamente. Fez-lhe o teste das picadas para ver se tinha alergias. Nem uma, facto que tanto nós como o médico já suspeitávamos já que a análise ao sangue tinha revelado não existir tendência para alergias. O médico também concorda que tudo tem origem no nariz: na rinite/sinusite, mas mandou fazer TAC torácico só para despiste. No dia 27, segunda-feira, há consulta com novo otorrino, já que o outro não nos tem 'enchido as medidas'.

E com o pai, à consulta de ORL vai também o mais novo. Ter uma segunda opinião (neste caso já vai em terceira, mas enfim). Nem me apetece escrever muito sobre o assunto... A verdade é que tanto em casa como no colégio se nota muita perda de audição no M. Praticamente todas as palavras (muito rudimentares) que já ia dizendo, deixou de dizer. Há alturas em que parece melhor, há alturas em que está francamente pior e nota-se pelo coçar das orelhas (geralmente coincidem com nascimento de dentes ou tempo frio e húmido).

Não tem tido febre nem estado doente, não tem tomado antibióticos, e anda sempre feliz da vida. E farta-se de palrar. Mas a linguagem é praticamente inexistente. Sabe dizer 'dá' para pedir, mas acho que até isso anda a dizer cada vez menos. Se a opção cirurgia me metia imenso medo, agora, sinceramente, se me dissessem que era necessário operá-lo para recuperar a audição, não pensava duas vezes. Ele é extremamente inteligente e vivaço, mas noto que cada vez mais lhe faz falta a linguagem. Os outros sentidos estão mais apurados, claro, o que não acho muito positivo. Está praticamente desligado do mundo em termos de audição, só ouve sons muito altos. E, claro, imita tudo o que fazemos, porque é o que o liga ao mundo. Sinto-me triste e um pouco perdida. Daí ir na segunda-feira a outro otorrino. O primeiro disse, no Outono, para só lá voltar em Março/Abril; o segundo disse, há pouco tempo, para só voltar em Setembro, que ele está melhor e tal e que há casos muito mais graves. Pois bem, eu acho que o facto do meu filho não ouvir não é grave, é gravíssimo. Ele pode não tomar antibióticos nem ter febre, mas volta e meia fica com os ouvidos muito inflamados e não ouve quase sempre.

Há tempos, achei que ele andava a mexer mais nas orelhas e resolvi ir até ao centro de saúde, que estava praticamente vazio, com ele. A médica era uma abrasileirada, muito disponível, e até chamou uma colega para ter outra opinião. Segundo elas, não tinha líquido nem cera nos ouvidos. Um dos ouvidos estava bem, mas outro tinha uma perfuração da membrana do tímpano. Diz a médica que, em geral, as perfurações saram por si só, e que o grande problema neste tipo de otites é, obviamente, a perda de audição.

Eu anseio por segunda-feira, e vou dizer ao otorrino que não estou nada tranquila, que não quero que o meu filho fique com sequelas, que não me importo que use um aparelho auditivo enquanto não se conseguir solucionar de outra forma, que se a melhor opção for operar o meu coração evapora-se mas tem de ser. É que o meu filho fica a olhar para as pessoas que falam com ele e percebe que lhe estão a dizer alguma coisa, mas não sabe o quê. Ou melhor, não ouve.

Adenda: Consultas adiadas, pelo consultório, para quinta-feira, dia 30. Mais uns dias de espera...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Dentes, parte II, de facto!

Tinha razão. A mais velha tem mesmo um dente definitivo a nascer lá atrás. Aliás, está quase todo cá fora, já. À frente, em baixo, tem um dente a abanar, mas ainda nenhum de leite caiu. Ela queixava-se, de vez em quando, que lhe doía a lavar os dentes, mas não era qualquer problema com os dentes de leite, era mesmo um dente novo a querer rebentar! Para já, parece estar a nascer bem no sítio dele, sem incomodar os restantes inquilinos. Até porque a M. tem bastante espaço entre os dentes (principalmente os que estão mais à frente), o que, segundo os dentistas, é bom porque ajuda a prevenir dentes encavalitados.

Qualquer das formas, como a M. foi à dentista da clínica pediátrica há já um ano, marquei consulta para a semana que vem. Vamos lá ver se está tudo bem com os dentes veteranos e com os novatos.

Vou aproveitar para levar, também, o mais novo, uma vez que ele caiu no colégio, na sexta-feira passada, e ficou com os dentes e as gengivas da frente, em cima, maltratados (ficaram pisados e com ligeiramente sangrentos).

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Gardasil

Hoje fui tomar a primeira dose da vacina Gardasil. O meu ginecologista recomenda vivamente, diz que o único senão é o preço (pois!). Segundo ele, a partir dos 27 anos deixa de haver eficácia de 100%, passando para 90%, mas, ainda assim, é uma percentagem bastante elevada.

Deu-me também o nome e a morada de uma farmácia nortenha que vende cada dose por cerca de 135 euros (o P.V.P. é cerca de 160 euros). Fica um pouco distante, mas compensa. Se alguém quiser saber qual é a farmácia, just ask me.

Dói-me o braço, mas sinto-me melhor. Oito em dez mulheres é muito, não é? E não é por isso que vou negligenciar os rastreios anuais, claro. Aliás, antes de perfazer um ano, lá estou eu.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O meu filho vai ser Relações Públicas, está visto

Chego ao colégio e quem vem buscar o M. é uma auxiliar que não costuma estar muito com ele, porque não é das salas dos mais pequeninos. Só que o M. não se importa nada e atira-se para o colo dela a rir-se. 'É incrível, este rapaz está sempre bem-disposto, é um querido!', diz ela.

Logo a seguir, aparece uma auxiliar que, essa sim, costuma estar mais com o M., principalmente de manhãzinha e ao fim da tarde. Ainda vem a caminho e já vem a exclamar 'M.!!! Quem me dera que fossem todos como tu! Não dás trabalho nenhum! [Juro que aqui estive mesmo tentada a dizer que mereço um desconto na mensalidade porque estão sempre a dizer que o meu filho não dá trabalho. :P] És uma riqueza! Anda cá!'. E ele vai, claro, feliz da vida.

É verdade. O meu filho é mesmo assim. Muito pacífico, simpático e bem-disposto. Também tem os seus momentos menos bons, como quando faz berreiro porque detesta trocar de roupa ou mudar a fralda, mas é, de facto, um querido.

E adora o colégio. Faz-lhe bem. Quando o vou buscar, fica contente por me ver e quer vir para casa, mas depois passa pelo salão onde estão os meninos maiores a brincar e quer ir para o meio deles. Até porque faz sucesso junto dos meninos e meninas da sala da M. Rapazes ou raparigas, todos querem brincar com ele, dão-lhe peluches e bonecas, fazem-lhe festas e dão-lhe beijos, andam com ele. Já o conhecem desde o tempo em que ele estava na minha barriga...

terça-feira, 24 de março de 2009

Eu, a construtora

Ando a leste destas lides, com muita pena minha.

O papá cá de casa teve uma pneumonia, pouco grave, tratada em casa, mas, ainda assim, uma pneumonia. Eu fiquei sem tempo para o que quer que fosse, claro.

Agora, parece que entrei (de novo) numa fase de obras/reparações/bricolage/decoração/arranjos domésticos. Deve ser do tempo. Ando a tratar da ligação eléctrica da garagem, da gaveta do congelador que partiu, do roupeiro, do chão do wc, do sistema de som, do resguardo da banheira, da televisão por cabo, da protecção para o terraço. Enfim, parece que estou a tentar construir uma casa. E o mais alarmante disto tudo é que acho que até tenho jeito e algum gosto por estas coisas. Podia calhar-me uma coisa mais glamorosa, não?! :S

Beijocas para todos!

terça-feira, 10 de março de 2009

Regresso

O mais novo voltou para o colégio. Esta é já a quarta semana desde o regresso. Resolvemos aproveitar o tempo mais quente e seco que se começou a fazer sentir, e a opinião do otorrino de que está a melhorar, para antecipar a (re)ida para o colégio.

Ele já estava farto de estar em casa e pegava várias vezes na mochila do colégio para com ela se dirigir à porta de casa. A mana, essa, ficou radiante por voltar a ter companhia.

Como diz o otorrino (este não é grande adepto de se privar as crianças do colégio por causa de otites e afins), em casa ele também fica doente (verdade!) e se não apanhar as doenças agora, vai apanhá-las mais tarde... E a comprovar isto, que se saiba nenhum menino da sala do mais novo e nenhum menino da sala da mais velha tiveram amigdalite herpética (aftosa), mas os meus tiveram. A mais velha arranjou isso não sei bem onde e passou ao mais novo após um fim-de-semana. Por isso, na semana passada o mais novo ficou em casa (mais uma vez, já estava fartinho...). Tinha febre abaixo dos 38º, uma data de aftas e menos apetite, mas foi recuperando. A mais velha só se queixava com dores de garganta, não chegando a fazer febre nem a faltar ao colégio. Ambos foram à consulta e andaram a Brufen. Segundo o pediatra, apareceram-lhe muitos casos destes naquela altura, mas, pelos vistos, no colégio deles não houve grandes manifestações do vírus.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

É a cinco! É a cinco!

Comprei embalagens de serpentinas a cinco cêntimos (10 cêntimos com desconto de 50% em cartão) no outlet do Continente. Cinco cêntimos! Até tive de olhar para o preço umas vinte vezes para confirmar. E havia fatos de Carnaval completos a um euro e a dois euros. Só tenho pena de não ter lá ido mais cedo.

Isto contrasta com os cinco euros que tive de dar por uma coroa para a M. Coroa essa que vai servir de substituta à que vinha com a fantasia da M.: tinha tanta qualidade que partiu-se logo (paguei quase 25 euros pelo conjunto :S).

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Genes (super)poderosos

Por falar em Natal, e como já tinha referido aqui, eu e a M. temos um gene natalício que é muito teimoso. Por isso, quase em Março, no meu carro continua a tocar o CD de músicas de Natal. É o único que a M. quer ouvir no meu carro. E eu não me importo. Por este andar, vamos estar com 40 ºC, na praia, a comer gelados e bolas de Berlim, e de gorro de Pai Natal na cabeça. :S

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Se o Natal é quando um homem quiser, o Carnaval

é quando uma cabeleireira quiser...

Diálogo entre as duas funcionárias do cabeleireiro:
- Quando é o Carnaval? É na segunda, não é? [What?]
- Não. Desta vez calha numa terça. [Double what?]

E eu, de cabelo molhado, a levar com água quente nos ouvidos, interroguei-me se estaria a ouvir mal ou se andei a vida toda enganada e, afinal, o Carnaval não se festeja sempre numa terça-feira. Quem é que se atreve a dizer que ir ao cabeleireiro é uma futilidade? Ainda estou aqui com os neurónios a filosofar, de forma a tentar encontrar uma explicação para aquela conversa. :P

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Dentes, parte II?

Parece que a minha filha, aos cinco anos e meio, tem um dente a nascer em baixo, lá atrás. Os dentes da frente, em baixo, estão a afastar-se uns dos outros, mas isso já tinha notado há algum tempo.

Só que, na semana passada, ao espreitar-lhe a garganta, para ver se tinha alguma coisa de 'anormal', reparei na gengiva aumentada e diferente. Ela fez um dia de febre abaixo dos 38 ºC e andou com diarreia vários dias (nenhuma das coisas é habitual nela), e eu pensei que fosse uma virose. Contudo, o certo é que aqui em casa ninguém andou assim e parece que no colégio também não. Será dos dentes? :S

Nota: Ela já tem os dentes de leite todos e nenhum caiu até agora. Se for, de facto, um dente a nascer, é um definitivo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Girl in Black

Para a fantasia de Carnaval do colégio, a minha filha precisa de uma fita preta para o cabelo, uns collants pretos e uma camisola preta quentinha, asap.

Só há um pequeno problema: o guarda-roupa da minha filha tem ZERO peças pretas. É que nem uma. Agora lembrei-me que sou capaz de ter uma fita preta muito antiga algures, vou procurar. Camisola preta quentinha para criança é que vai ser lindo encontrar, acho que vou pesquisar na Fabio Lucci. E vou procurar lá, também, uns leggings ou uns treggings pretos, em vez de collants.

A camisola tem de ser quentinha porque, desta feita, vão participar no desfile de Carnaval da cidade. Um pai ofereceu-se para pagar a camioneta (Big Give em acção ;) ), e aí vão eles!