sexta-feira, 31 de julho de 2009

Essência masculina numa caixa

Comprei, no Continente, um cesto rectangular pequeno e com tampa. Cheguei a casa, tirei-lhe a tampa e coloquei-o na casa de banho com produtos de higiene (cremes, água do mar e pouco mais). Ficou logo tudo mais organizadinho.

Quando o papá cá de casa entra na casa de banho e dá de caras com semelhante obra-prima, imediatamente discursa sobre o assunto:
- E para mim, não há? Não compraste? Também quero um. Olha a ver se trouxeste para mim!
Respondo:
- Ainda pensei nisso, mas pensei que não querias, e não sabia se cabia aí.
- Tens de comprar um para mim. Preciso para pôr os meus produtos todos que estão ali. Olha, vês? Quando fores lá, compra outro.

[Era tudo tão mais simples antes da metrosexualidade...]

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Muitos, muitos anos depois...

Quem é que consegue encarar um subsídio de 200 euros que só pode ser movimentado pela 'criança' aos 18 anos como um incentivo à natalidade?

Algumas considerações:
- Que os pais possam fazer depósitos ao longo dos anos tendo as mesmas deduções fiscais das contas poupança reforma ainda deve ser o melhor da proposta. Mas, ainda assim, é preciso que os pais tenham capacidade financeira para o fazer. Afinal dá-se 200 euros, supostamente para ajudar, e depois espera-se que os pais ainda tirem da cartola mais uns euros?

- Será que se esqueceram que colocar mais um zero? Se calhar é um lapso. É que em Espanha são 2500. :S

- 200 euros, mesmo com juros e com alguns trocos poupados ao longo do tempo serão significativos para ajudar ao início de um empreendimento próprio ou para financiar os estudos superiores (como ouvi na rádio)?

- Como incentivo à poupança, ainda vá, agora, e repito a questão, como incentivo à natalidade? 18 anos e nove meses depois?

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Juntar as peças

A auxiliar da sala do M. disse-me que na sexta-feira estava a dar água aos meninos e que o M. lhe pediu:
- Ti, áua! [Tina, água!]
Ela diz que até olhou para a educadora, para ver se ela também tinha percebido, e que a educadora fez-lhe um gesto a mostrar que sim.

É notório que o M. se esforça mais fora de casa. No colégio, com os avós ou com desconhecidos. Então com desconhecidos, é vê-lo a dizer dezenas de 'olás' e até mesmo 'andas' ('ana', na linguagem dele, acompanhado da mão a fazer o gesto).

Nunca o ouvi a pedir água. Pega na garrafinha e bebe; ou aponta para a garrafa/copo e emite uns grunhidos impacientes ou diz 'dá'; ou pega no copo, sobe a uma cadeira e tenta pegar no recipiente da água para enchê-lo (não consegue, que o recipiente é pesado, por isso... grunhe :S).

Perguntei à auxiliar se o M. costuma chamar por ela ('Ti') e ela diz que sim. Cá por casa, quando quer alguma coisa, muitas vezes diz 'ati', o que eu pensava ser o nome dele, do tipo 'dá ao ati'). Agora estou na dúvida, será que o que ele está a dizer não é o nome dele, mas sim o nome da auxiliar? Do género, 'quero a Ti', ou então pensa que 'Ti' é qualquer coisa que significa o mesmo que 'dá'? Só dúvidas... Hoje vou tentar falar melhor com ela sobre isso.

No fim-de-semana, o M. foi à cozinha, pegou numa banana e disse 'nana', ao mesmo tempo que a trazia para eu lha dar. E, ao mostrar-lhe um cartão dum jogo do Noddy, que tinha uma maçã, ele repetiu o meu 'maçã' com um 'çã' ou 'açã', som que nunca o tinha ouvido dizer. Serão coincidências? O certo é que estes momentos são tão escassos... E ainda há aquilo que não percebo bem se disse ou não, como me parecer que já disse borboleta, sapato, casaco e dói-dói, tudo na liguagem dele, claro. Mas é tudo tão incipiente... Tento ficar feliz com estes pequenos avanços, mas a preocupação leva a melhor.

Ontem, estava a brincar com ele, com um jogo que tem um tabuleiro e uma peças magnéticas em forma de carros. Digo-lhe sempre 'pó-pó', mas, para variar qualquer coisinha, comecei a dizer-lhe 'pó-pó azul', 'pó-pó vermelho' e assim por diante. Ele acena com a cabeça, a dizer que sim, mas não sei ao certo com que intenção o faz. Colocámos três carros azuis juntos e disse-lhe que eram todos azuis. E ele apontou e disse 'zu'. Depois, para meu espanto, olha para o meu pijama e aponta para uma lua azul e ri-se, depois aponta para um urso azul. Não pode ser coincidência, pois não?

Noto no M. um crescente (ou será apenas mais notório) problema com níveis de frustração. Não sei se é por não falar que tem esse problema, ou se é por causa desse problema que não fala. O certo é que é capaz de se ocupar por bastante tempo a fazer alguma coisa que lhe corra bem. Mas, se não consegue, como quando falha em colocar uma peça num puzzle, desiste e vai logo fazer outra coisa qualquer. Por vezes, até puxa o cabelo ou belisca-se. Nada de mais, mas é evidente. Se calhar noto mais agora, porque começou a fazer mais puzzles, desde que os pus mais à mão. Os que são para a idade dele ou mesmo alguns para três anos, até lhe correm muito bem. Mas se vai buscar puzzles mais complexos ou se não consegue encaixar uma peça, desanima. Não se isola, geralmente vai buscar outra coisa qualquer para brincar connosco ou ao nosso lado. Acho que nas crianças pequenas é normal esta frustração, mas como aqui o caso está um bocadinho mais complicado, a preocupação também aumenta.

Quando me lembro da M., na idade dele, era o mesmo ou pior. Ainda hoje, se for a ver, a M. tem a mania que tem de ser a melhor e não lida bem com a frustração. (Será que alguém lida?) Quando era pequena, nem pegava em puzzles. Só muito tarde consegui que sossegasse e mostrasse interesse em que lhe contasse histórias. Andava sempre de um lado para o outro, sempre foi muito 'física'. Pedalava no triciclo como ninguém, mas não ligava à TV nem aos peluches nem aos jogos, pouco aos livros. Queria andar sempre aos saltos e era (é) um despacho.

Acordava e não chamava por ninguém. Berrava. E só se calava com o biberão na boca. Era difícil vesti-la e penteá-la, tal a energia. No colégio, disseram sempre que não era hiperactiva, apenas com muita vida. Hoje, confirma-se. E que brincava muito sozinha (provavelmente por fazê-lo em casa), mas também brincava com os outros (basicamente com os maiores, até fugia para a sala dos grandes). Insistiam nisto, que ela brincava muito sozinha, mas também acompanhada. E eu, ainda pouco informada destas coisas comportamentais, perguntava-me 'mas por que raio insistem em dizer que também brinca acompanhada, qual era o problema se brincasse sozinha?'. Juro que na altura não percebia. Para mim, uma criança pequena brincar sozinha parece-me tão normal. Porque, como diz o pediatra, antes dos dois anos, o conceito de socialização delas ainda é rudimentar. E, claro, como ela era cheia de vida, não me passava pela cabeça que pudesse ter algum problema (a não ser a infindável energia).

...

Com tanta dispersão por parte do otorrino, na consulta esqueci-me de falar com ele sobre o mais importante. Sobre a interpretação do exame auditivo, que ainda não fizemos. Basicamente, só tínhamos falado ao telefone sobre isso. Queria saber até que ponto é que aquele exame nos pode dar alguma indicação sobre o nível de audição do M. antes da cirurgia. E queria também preceber por que é que supostamente o restabelecimento da audição é imediato com a cirurgia, e afinal depois venho a descobrir que não é bem assim. Que o exame só deve ser feito pelo menos um mês depois da cirurgia para que os resultados sejam fiáveis. É contraditório e gostava de perceber a lógica. Por isso, vou ter de fazer um sacrifício e acompanhar o meu marido, na quinta-feira, quando for ao otorrino tirar o (último) silicone que ainda tem no nariz. Vou levar o relatório do exame e ver se consigo retirar do médico alguma informação objectiva sobre o assunto, que é isso que pretendo dele, e não aventuras noutros campos da medicina (acho que ele deve ser um Indiana Jones reprimido :P).

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dêem-lhe o título que quiserem que eu já esgotei a lista

O pediatra acha que o M. tem apenas um ligeiro atraso psicomotor sem estar propriamente fora da normalidade, que é preciso dar-lhe tempo para amadurecer, que é apenas um pouco abebezado e que não lhe parece que seja autista.

A educadora diz que o M. tem um comportamento diferente de todos os outros da sala, mas faz tudo o que os outros fazem, e atribui a diferença ao facto de ter estado sem ouvir correctamente durante muito tempo e de ter saído do colégio. Diz que já pôs a hipótese de autismo mas que a foi pondo progressivamente de lado. Diz que desde a cirurgia houve uma grande evolução por parte do M. Que ele agora faz quase tudo 'à primeira', que não fica a ver o que os outros vão fazer para depois fazer também, que percebe as ordens, que não é preciso falar alto com ele, que agora emite muitos sons que antes não emitia e tagarela mais. Diz que tem muitas atitudes que são contraditórias com o autismo, e que é preciso dar valor ao que ele faz, aos aspectos positivos, e não ao que ele não faz. O meu marido acha que o M. está bem e que eu me preocupo demais.

Eu procuro ver os aspectos positivos e fico mais tranquila com os 'relatórios' da educadora, porque, afinal, ela passa muito tempo com ele e sei que tem uma postura vigilante (além disso, trabalhou vários anos com autistas, embora não desta idade). Mas, depois, surge inevitavelmente uma consulta de otorrino e cai tudo por terra. Porque o homem só há meio de ver o que há de negativo e juro que já estive para lhe dizer que acho que ele (o otorrino) é que deve ser autista (pelo menos quando está comigo) porque não liga patavina ao que lhe digo. É que não liga mesmo. Pergunta-me como é que está o M. em termos de audição (mas para que é que pergunta se não lhe interessa o que vou responder?) e eu falo-lhe da evolução em casa e no colégio, na música a que ele reage como nunca fez, nas tentativas que faz para falar embora não se perceba o que diz. Ele simplesmente ignora o que digo e faz um mini-exame ao M. muito pouco científico em trinta segundos.

O otorrino conclui que não gosta do comportamento do M. e que quer que repita o exame dos potenciais auditivos. Eu fico fula porque digo-lhe que ouve, a educadora garante que ouve, e ele não quer saber. Digo-lhe que não quero repetir o exame porque assim vivemos em permanente angústia e que (mais importante ainda) a doutora que fez o exame garantiu que não era necessário repeti-lo, uma vez que os valores que não estavam completamente normalizados se deviam apenas à operação ser recente, que com o tempo a ligeira variação iria normalizar (ela foi muito assertiva no que disse). Entretanto, o M. dirige-se para a cadeira de passeio e tenta sentar-se (quer ir embora, claro) e eu, que tenho de fazer sempre de advogada de defesa do meu filho face a exames tão científicos :S por parte do otorrino, viro-me para o M. e pergunto-lhe:
- O dói-dói, M.? [Não me liga.]
- O dói-dói? [Insisto, e o M. olha para o cotovelo onde tem o seu primeiro dói-dói com direito a crosta.]
- Vai mostrar o dói-dói ao sr. doutor! [E o M. vai ter com o sr. doutor, olha para ele, ri-se e mostra-lhe o cotovelo, e fica à espera que o doutor lhe dê um beijinho. Que deu porque eu disse-lhe que o M. queria. Caso contrário, nem se mexia. A sério que este médico me faz confusão, porque critica o comportamento do M., mas o comportamento dele também não é o melhor. Quer dizer, a criança vai 'toda dada' ter com ele, de cotovelo em riste, e ele não faz de conta mas quase. É assim que ele lida com uma criança de dois anos? E se o meu filho fosse daquelas crianças que nem entram no consultório porque têm medo e fartam-se de chorar porque não podem ver 'batas brancas à frente', se calhar o sr. doutor concluía logo que estava perante um caso de esquizofrenia... E no fim, estão a ver eu a dizer ao M. para dar um passou-bem ao doutor e o doutor nem lhe estende a mão? O meu filho sai a mim, e só estende a mão quando a outra pessoa também a estende, bolas, e o médico nem se mexeu, para variar. Juro que só de pensar que tenho de lá voltar, sinto náuseas. Primeiro, o otorrino diz que se o meu filho tiver outro problema que não auditivo, não é da competência dele e tenho de falar com o pediatra. Depois, volta e meia, dá a entender que o meu filho tem isto ou aquilo, subtilmente (ou não, depende da perspectiva). Porra, que eu já lhe disse que falei com o pediatra e até já lhe disse mais do que uma vez o que o pediatra disse, e que estou atenta, e até já marquei consulta com um neuropediatra (mas desta consulta nem lhe falei nem vou falar porque, desculpem lá, se ele não tem nada a ver com as outras áreas, não tem nada a ver com as outras áreas). Basicamente, o que o sr. doutor acha é que, não tendo um problema auditivo, o meu filho tem à viva força que ser autista. E eu não digo que não seja, mas prefiro deixar esse diagnóstico para alguém que seja especialista no assunto. Ou então, fio-me no que o otorrino acha e concluo que é autista e poupo 100 euros na consulta do neuropediatra que só consegui marcar para Setembro porque o médico está de férias e nem acordo com o seguro tem. Bolas! Primeiro o meu filho tinha uma surdez neurossensorial severa a profunda. Não tem! Agora é autista. E eu pergunto: se a educadora e o pediatra, que conhecem o meu filho melhor do que ele e lidam com crianças a toda a hora, acham que o M. está a evoluir e que não lhes parece ser um caso de autismo, como é que o otorrino tira outras conclusões tão facilmente? É que é o 'Segredo' ao contrário! Pois que devemos sempre procurar ser tratados por médicos que nos transmitam confiança e que sejam positivos, que 'trabalhem connosco', e não contra nós. Neste caso, deixo no consultório dele a minha energia e venho para casa com a energia negativa dele. Sou eu que, parafrasenado o peditra, lhe tenho de dizer: 'Vamos dar-lhe tempo!'] Tenho o direito a não querer ir a um otorrino tratar de ouvidos e acabar com o fantasma do autismo sempre em cima. Se fosse a primeira consulta, ainda vá que ele desse a dica, porque eu podia ser uma pessoa pouco informda e nem saber o que era, mas, caramba, já não é a primeira consulta (será que tenho de lhe atirar com um nada político 'já disseste!'?).

É claro que eu, que já tenho de fazer um grande esforço para aguentar tudo, venho abaixo.
A auxiliar da sala do M. veio dizer-me para ir a outro otorrino, para não ir mais a este, e que ela concorda com o pediatra. Mas não vou a outro otorrino, pelo menos para já, porque foi este que o operou. Para não dizer também que a outros otorrinos já eu fui, e não me apetece andar a saltar mais, e se a cirurgia já foi feita, não há muito que vá fazer a outro. Pelo meio, fiquei a saber que o tubinho do ouvido direito já não está no sítio, saiu do tímpano e, portanto, já não está a fazer efeito. Daí as dores que o M. teve durante 2-3 dias e a secreção amarelada/acastanhada que apareceu na cama dele, foi tudo devido ao tubo se ter deslocado. O tubo do lado esquerdo mantém-se e ambos os ouvidos estavam bem, secos como se quer.

O pior disto tudo, já sei que parecendo uma adolescente em crise, é que ninguém me ouve, ninguém me compreende, ninguém quer saber. *****!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Anatomia de Papá

O M. e a M. voltam hoje de uns dias de férias. Uma espécie de férias forçadas, porque o papá foi operado ao nariz da terça-feira e está a recuperar.

A operação correu bem, mas o pós-operatório está a ser mais difícil do que o esperado, já que além da remoção de sinéquias e de dois pólipos, acabou por ter de fazer também a correcção do desvio do septo (não estava previsto, porque o devio não era significativo, mas teve de ser, senão o médico não conseguia chegar às sinéquias).

Hoje, o papá já foi ao otorrino para remover umas enormes esponjas que lhe tapavam o nariz todo e o impediam de respirar. Espero que agora, finalmente, comece a conseguir comer. Para a semana, vai remover o silicone do lado esquerdo, e uma semana depois vai remover os dois silicones do lado direito. Só espero que depois de isto tudo, fique com o problema resolvido!

Parece que hoje dá o último episódio da Anatomia de Grey. De certeza que não o vou conseguir ver, deixo para amanhã. Para quem ficar triste porque está no fim e que saudades que vai deixar e ai que gostava tanto de ver os Mc não sei quê e tomara que haja mais uma série e ai que tristeza como é que eu vou arranjar uma série que me faça chorar assim e blá blá blá... Não se preocupe porque tem sempre: o meu blog! É que não há meio de falar noutra coisa aqui, é só médicos, exames, medicamentos, cirurgias e afins. Xiça... :S
[E eu nem conto tudo. Ainda hei-de postar sobre o resto, mas aviso já que é assunto que nunca mais acaba. Acho que há médicos com menos experiência que eu em pediatria e otorrinolaringologia. Sinceramente, já merecia um doutoramentozinho Honoris Causa ou então podiam convidar-me para cronista/crítica na área de medicina, podia ter uma coluna num semanário qualquer e opinava e atribuía estrelas de uma a cinco aos médicos e às instituições. :P]

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Objectivo cumprido

Hoje fui fazer a minha inscrição de dadora voluntária de medula óssea. Finalmente consegui ir ao encontro de uma brigada do Centro de Histocompatibilidade do Norte, e lá preenchi o inquérito e fiz a colheita de sangue. A enfermeira, novita, tinha mãos de fada, já que senti absolutamente nada!

Não resisti...

[fotos retiradas]

O M., com pouco mais de 11 meses, ainda com poucos dentes (agora já tem quase todos) e a tentar 'assaltar' a máquina fotográfica. Tem os olhos ainda maiores e mais pestanudos, e está cada vez mais manhoso e refilão (começa a 'mandar vir' connosco quando nos zangamos com ele, só visto :P).

terça-feira, 7 de julho de 2009