segunda-feira, 1 de junho de 2009

Ponto da situação

O M. foi operado na passada terça-feira, há quase uma semana portanto. A cirurgia correu bem, foi de manhã, e à noite já estava em casa. Dormiu a noite toda. O acordar depois da operação foi um pouco complicado e incluiu uma veia a deitar sangue tipo esguicho, porque o cateter saiu, e eu a estancar o sangue com a fralda de pano do M. Não foi bonito. :S

O otorrino passou no quarto por volta da hora de almoço e queria ver se o M. já ouvia melhor. O M., se já dorme muito, então com uma anestesia em cima ainda dorme mais, e é claro que não ia acordar. Ainda se tentou levantar e disse qualquer coisa na linguagem dele acompanhando com uma explicação com as mãos, mas depois disso 'caiu redondo' na cama. Eu acho que ele nos estava a ouvir a falar e levantou-se para 'falar' também, mas não conseguiu porque estava perdidinho... Enquanto continuámos a falar, ia abrindo os olhos, mas depressa voltava a adormecer.

Ficou um dia em casa e já estava farto. Ia buscar os meus sapatos para ir à rua, pegava nas chaves e coisas assim... Por isso, na quinta-feira foi para o colégio, com autorização do otorrino. Nada de dietas. No primeiro dia foi mais à base de líquidos frios, mas dei-lhe miolo de croissant à sucapa, que ele estava cheio de fome e pedia. No dia seguinte já estava tudo normal.

Descobri que ele reconhece uma galinha. Faz 'põe, põe' com o dedo e a mão quando vê uma (em desenho) e diz 'p,p,p'. Tem dançado ao som da música no colégio e em casa. Não nos parece que seja por 'imitação', parece ouvir. Já lhe saiu um 'anda' dito à mana e outro ao pai. No caso da mana, eu estava com ele à beira das escadas para irmos jantar, e eu estava a dizer 'anda M.!' à irmã; só que ela não vinha porque estava a brincar; ele largou a minha mão, foi ter com ela e disse um 'anda' que me pareceu quase perfeito. Com o pai, a situação foi idêntica e ocorreu hoje de manhã, quando o M. queria que o pai fosse com ele. Não sei se ando a imaginar coisas, mas que foi uma palavra parecida com 'anda', foi. A educadora diz que agora ele reage sem ser preciso falar tão alto como antes. Diz que o manda colocar a presença dele no quadro, conforme manda aos outros, e ele vai logo. Antes da cirurgia, em três dias diferentes acordámo-lo com estalar de dedos, em diferentes intensidades, e ele acordou sempre. Numa das vezes, com um único estalar de dedos mais sonoro, até saltou da cama com o susto.

Hoje de manhã, fomos à consulta pós-cirúrgica. O otorrino disse-lhe 'olá' e o M. não lhe ligou. O otorrino acha que o M. não o ouviu. Eu acho que ele estava era distraído a fazer 'olhinhos' à funcionária que (ainda) estava do lado de fora do consultório. Depois, como eu disse que o M. tem reagido ao toque do meu telemóvel, o médico telefona-me. O M., que estava a ler o seu livro, faz uma cara diferente mas continua nos seus afazeres. O médico conclui que ele não ouve, pois claro. Eu acho que o M. acha uma seca estar lá e quer é vir embora. O otorrino lá se meteu com o M. e aí ele riu-se (finalmente uma coisa divertida, deve ter pensado), depois dei-lhe o meu telemóvel e começou a 'falar' colocando-o ao ouvido.

No final da consulta, o otorrino disse 'xau, M.!' sem fazer gestos e o M. levantou logo a mão para acenar (como quem... 'finalmente!'). Ninguém reparou se o M. estava a olhar para o otorrino quando ele falou, mas achamos que não, que ele até estava a olhar para baixo. O otorrino disse outra vez e o M. voltou a acenar. Conclusão do otorrino: 'ele pode saber ler os lábios'. Ok, aqui só me apetecia dar-lhe uma marretada! Já fartinha, virei-me para o M. e disse 'dá miminho à mamã!'. E ele esticou a mão (estava no carrinho de passeio) para me fazer um miminho, não descansando até eu me baixar para me passar a mão pela cara. Será que ele também leu nos lábios uma frase dessas, ainda por cima pronunciada relativamente depressa? E 'xau', lido nos lábios, não podia ser outra coisa qualquer que não xau? E quando acorda com o estalar dos dedos está a ler o quê, a 'Maria'? Qualquer das formas, o otorrino disse que já estava mais contente quando o M. teve estas reacções. Pois, é que o M., ouça bem ou menos bem, não deixa de ser criança, reagindo apenas àquilo que lhe interessa ou desperta a atenção...

Acho que o médico queria que o M. acordasse da cirurgia e dissesse logo 'olá sr. doutor, como tem passado?'... Nós continuamos com muitas dúvidas sobre o nível de audição do M., mas é verdade que ele está melhor. Por exemplo, ontem ele estava sentado na cadeira da papa, de costas para a porta da cozinha, e esta emite um 'estalinho-daqueles-que-a-madeira-faz-quando-está-muito-calor', e o M. vira-se logo para trás. O som não foi alto, mas foi um som diferente, que provavelmente despertou a atenção do M. Parece que o otorrino está à espera que o M. esteja sempre a virar a cabeça para tudo o que é sítio de onde tenha vindo som. Se o M. já conhece o som do meu telemóvel, não pode simplesmente não lhe ligar porque já o conhece, não é nada novo ou interessante? E quanto ao ler lábios, já disse 'miminho' ao ouvido do M. e ele fez. No fim-de-semana, o M. estava a brincar no quarto e eu disse-lhe 'vamos, anda e outras coisas que tal'; não me ligou, mas quando eu disse 'vamos ao papá!', deixou de fazer o que estava a fazer e foi ter com o pai. (Não leu os lábios, acho que até estava de costas.) Por isso, ou são tudo grandes coincidências ou o M. até ouve melhor do que pensamos.

A minha empregada diz que tem um irmão que só começou a falar aos quatro anos. Diz que só apontava para o que queria e nada dizia. Depois, começou a falar e correu sempre tudo bem. Eu acho que o M. é um bocado 'parado', principalmente quando está mais sozinho. Ele gosta é de estar com muita gente, é sociável e comunicativo (olha muito nos olhos, ri-se, faz gracinhas, passa a mão nas pernas das raparigas ;), chama a atenção das pessoas de várias formas), mas, ao mesmo tempo, sempre foi muito dorminhoco, calmo e observador. E se está empenhado em qualquer coisa, não nos liga, parece que não nos está a ouvir nem a ver (e não posso concluir que seja cego porque não liga aos meus gestos). Por outro lado, se interrompo o que ele está a fazer, não 'stressa', até se ri e começa a fazer gracinhas. Continuamos com a hipótese de autismo, mas tanto a mim como à educadora parece-nos quase impossível que seja isso, porque as únicas 'pistas' são ele ainda não falar e parecer não ouvir bem. O otorrino diz que há crianças muito enérgicas e há outras que são mais calmas, mais contidas, que se distraem muito, por uma questão de temperamento apenas, mas que é necessário averiguar se há alguma lesão auditiva (ou doutro género) para ficarmos tranquilos. E nós concordamos.

Sendo assim, o próximo passo é fazer um exame em que o M. tem que estar a dormir (naturalmente ou com anestesia) para analisar o seu potencial auditivo. Vamos fazê-lo na sexta-feira à tarde.

7 comentários:

Mãe das Marias disse...

Fico feliz por ter corrido tudo bem. Acho que o médico é um pouquinho exagerado e exigente. A Tiz tb não faz tudo o que alguém desconhecido pede e ainda por cima num ambiente que ela não goste... Acho que neste caso os médicos têm que confiar naquilo que os pais presenciam.
O M. parece-me um menino perfeitamente normal para a idade, pode não ter a fala muito desenvolvida, mas pode ser uma questão de audição ou mesmo de temperamento e mais tarde vem a apanhar tudo...
Vai correr tudo bem, tenho a certeza ;)

beijocas***

rita disse...

Se vocês, pais (pessoas que conhecem melhor o M.) acham que ele está melhor, é porque está mesmo melhor. Esse otorrino precisava de fazer uma formação em pediatria ou pedagogia infantil; era-lhe útil e evitava que se precipitasse em diagnósticos desses. É que além de poder estar a cometer graves erros médicos, ainda arrasa completamente com os pais. Pior, pode aplicar terapêuticas que sejam erradas e prejudiciais para o menino.
Cada criança é única; tem os seus timmings próprios. Isso tem que ser tido em conta.
Acredito que este pesadelo vai acabar rapidamente.
Bjs

Flor de Leite disse...

Rita: Ele tem três filhos, mas, pelos vistos, são todos muito precoces. ;) Nós concordámos com a cirurgia, porque era evidente nos timpanogramas que a audição estava muito afectada (nisto, todos os médicos foram sempre unânimes), tinha muito líquido nos ouvidos. Aliás, falei com o pediatra do M. na véspera da cirurgia, para sabe qual era a opinião dele, e ele concordou. Mas é verdade que este otorrino é alarmista, não nos tranquiliza. E se é certo que pode etr razão, também é certo que pode não ter... Só que não podemos continuar com dúvidas, por isso fez-se a cirurgia e vamos fazer o exame que nos dirá se há perda auditiva e até que ponto. Se o exame estiver normal, o passo seguinte é falar com o pediatra (o médico que o conhece melhor) para saber a sua opinião. Também há um pediatra, já velhote, aqui na zona, que é uma espécie de Dr. House, pelo que se for necessário vamos à consulta dele.

Beijinhos para todas!

Carla Santos Alves disse...

És incansável minha querida!

Pelo que contas parece que realmente ele está a ouvir!

No proximo exame terás mais uma ajuda!
Se Deus quiser vai tudo correr bem, ainda vais ter aí um rapaz falador!

Bjs

Unknown disse...

Fikei feliz por saber k td correu bem com a operação e q o M. aos poko vai recuperando :)
O facto de o M. n falar mto n me parece q seja fora do anormal....eu costumo dizer cd caso é um caso mas vai td correr bem vais ver :)

jokitas

Edith disse...

Que bom que tudo correu bem! Vais ver que o teu menino vai ficar bom e logo logo vai falar pelos cotovelos...
Bj

Charilas disse...

Ainda bem que correu tudo bem!
Com um otorrino tão céptico...nem eu lhe ligava nenhuma mas também lhe dizia xauzinho com toda a satisfação! :)