quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Prognósticos, já se sabe, só no fim

O M. ja fez um EEG há uns meses atrás. O pediatra mandou fazê-lo para despistar possíveis 'ausências'. Mais por insistência da nossa parte, porque, pela nossa descrição, não lhe parecia que fosse o caso.

No dia do exame, a técnica disse que não via nada de relevante no traçado, mas que ainda tinha de ser visto pela médica. Já com o relatório na mão, o pediatra disse que 'ausências' o M. não tem, porque nos exames elas correspondem a um traçado muito específico, o qual não aparecia no do M. Qualquer das formas e, segundo ele, aquele exame acaba por não ser 'nem carne nem peixe' porque revela que pode haver 'qualquer coisa' mas basicamente é inconclusivo (remete para relacionar com a 'clínica demonstrada'). As 'ausências', que era o que poderia ter face aos 'sinais', não tem. O 'qualquer coisa' também não deve ter, pois em princípio apontaria para convulsões daquelas mesmo evidentes, e isso nunca aconteceu. Além disso, sem medicação, a tendência era para os 'sinais' se agravarem, os episódios seriam mais recorrentes, e isso também não aconteceu. Podemos repetir o exame, mas convém deixar passar de seis meses a um ano.

O que é que eu acho? Que ele não tem qualquer forma de epilepsia. Pelo que sei, só há epilepsia quando a um EEG alterado há uma correspondência de crises convulsivas na 'vida real'. Epilepsia no papel sem ter correspondência 'visível' não é nada, e em crianças destas idades o cérebro ainda está em desenvolvimento...

...

Ontem, quando fui buscar o M. para ir ao pediatra, falei com a educadora. Ela deu-me o nome de uma terapeuta da fala que recomenda. Diz que não acha urgente e que se não soubesse que nós, pais, nos preocupamos com a questão na fala, provavelmente nem sugeria nada. Mas que acha que podíamos tentar, porque o M. está bem nas outras áreas e só falta essa. Segundo ela, quem convive com o M. nem se apercebe que ele não fala, porque ele é vivaço e passa a mensagem de outras formas. Diz que o M. está muito bem no comportamento geral e que faz muitas tentativas para falar, já não se irrita a fazê-lo, procura conseguir. Eu também noto isto. Acho que o M. no desenvolvimento global está igual a qualquer outro miúdo, até noto que ele procura mais interacção e brincadeira do que as crianças da idade dele que encontramos. O M. é muito 'dado' e, lá está, está sempre pronto para a 'festa'. As palavras da educadora sempre me tranquilizaram, porque ela passa muito tempo com ele e é muito atenta.

Fomos, então, à consulta com o pediatra, que também costuma ser muito calmo e tranquilizador. Sempre disse que achava que o M. não tinha nada de patológico, que era uma questão de (i)maturidade. Só que, desta vez, o discurso dele foi um pouco diferente. Continua a dizer que acha que é tudo uma questão comportamental/educacional e do desenvolvimento dele, mas que não nos pode garantir que não haja um problema neurológico por trás. Diz que uma lesão neurológica pode estar na origem do problema da fala e de alguma irritabilidade (eu acho que o M. é apenas muito senhor de si, mas posso estar em negação...).

Quanto à terapia da fala, que a educadora sugeriu como algo que poderia dar um 'empurrão e dicas', o pediatra acha que não vale a pena, que só serve para corrigir ou para identificar a origem do problema quando a criança já fala alguma coisa. Quanto ao episódio do vómito, diz que pode ser uma coisa banal, mas também pode não ser (obrigadinha...), mas não deu grande relevância. Ah! Se houver um problema neurológico, ele diz que temos de nos preparar para o M. ter as suas limitações e que só irá até onde pode ir. Aqui eu não sei se o pediatra percebeu que a nível cognitivo o M. está muito bem, pelo menos é isso que vemos em casa e que a educadora vê no colégio. É inteligente, desenrascado, curioso, interessado. O que me preocupa é mesmo 'só' a fala.

Mais uma vez por insistência minha (mas por que é que não me calo?), lá acabou por dizer que podemos fazer uma avaliação com a pediatra do desenvolvimento, que só está lá uma vez por mês e que, por acaso, até vai estar lá amanhã. Só que está tudo cheio, não consegui vaga. O pediatra diz que provavelmente ela vai acabar por recomendar ir ao neurologista e que este talvez mande fazer uma ressonância magnética, mas, que para já, devíamos evitar esse exame porque envolve anestesia e mais não sei o quê e o miúdo ainda é pequeno.

Só uma nota: no fim de Agosto, o pediatra achou que o M. estava mais calmo (na altura, não consegui deixar de rir perante esta observação, porque o M. está cada vez mais reguila) e mais de acordo com a idade dele. Agora pode ter um problema neurológico. Posto isto, vou só ali atirar-me do sofá e volto já.

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Voltei.
Qualquer dia sou eu que preciso de tratamento.:S Isto de ir aos médicos é vicioso, não acaba, é labiríntico. Por isso é que eu e meu marido temos evitado encontrar-nos com tais seres. É que chegámos à brilhante conclusão de que não chegamos a conclusão alguma. Eu juro que já não posso com eles, e até nem é por causa deles em si, é mesmo pela confusão da 'coisa'. Já fico impaciente perante eles, e isso deve-se notar. É como se diz, qualquer dia se não se morre da doença morre-se da cura.

Para mim, o M. não tem autismo (as coisas que me podiam levar a pensar isso desapareceram), não tem epilepsia, não é hiperactivo, não tem défice cognitivo. Não sei se tem outra coisa qualquer que desconheço e palpita-me que os médicos também não saberão. E isto tudo irrita-me, porque (e como a educadora e eu já concluímos) se fosse há uns anos atrás (não era preciso recuar muito) ninguém pensava que o M. pudesse ter algum problema. Agora é tudo fast e standard, tem de ser tudo fast e standard.

A propósito disso, no primeiro dia de colégio da M., quando foi para a sala dos três anos, a educadora dela deixou-me ficar um pouco na sala, no início. Havia lá um menino 'novo' que ficou a olhar para um lápis como se de um bicho de 52 patas se tratasse. A educadora, inclusive, olhou para mim, do género 'ele não sabe o que é um lápis, aos três anos'... Bolas, que o meu filho sabe o que é um lápis desde que tinha menos de um ano. Quando foi para o colégio, a educadora até disse que o M. fazia uma coisa que os outros, em geral, ainda não faziam: trocar de lápis. Já tinha noção que podia pintar com uma cor, depois com outra, provavelmente por ver a M. a fazer isso em casa. Aliás, a educadora sempre sempre mas sempre disse que a nível cognitivo e social o M. estava a par dos outros. Agora, vou para a pediatra do desenvolvimento avaliá-lo a nível cognitivo? Bem, se eu tivesse levado a M. com esta idade à pediatra do desenvolvimento, não sei se ela 'passava' (LOL), porque ela não ligava a puzzles, a jogos de encaixe e outras coisas que tais. Só queria festa (deve ser genético), saltar, jogar à bola, andar de triciclo, brincar e outras coisas muito pouco intelectuais e de utilidade pública.

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O M. começou a andar tarde, é um facto. Gatinhava como se não houvesse amanhã, mas andar mesmo só aos 17 meses (se pensarmos que o filho da podologista começou a andar aos 18 meses e o meu marido aos 19, até que não está mal). Lá começou meio a medo, mas o certo é que, hoje, trepa sofás e cadeiras, salta, corre, cai e levanta-se num ápice, sobe escadas de escorregas com destreza, tenta subir para a cadeira do carro e salta fora dela. Aliás, ele imita a M. em tudo e consegue fazer quase tudo o que ela faz, o que penso ser bom já que ela tem mais de seis anos, não? O M. não ligava muito a bolas, agora anda atrás delas tipo Ronaldo; andava na mota eléctrica, mas tinha que andar alguém atrás dele, agora vai pegar nela, anda, faz marcha-atrás, sobe e desce passeios, põe-se em pé e quando lhe dizemos para se sentar faz olhar de mafioso e põe-se, claro, em pé... Enfim, não sei o que hei-de pensar.

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Ainda acerca do episódio do vómito de segunda-feira, a minha empregada acabou de me contar que o neto, da idade do M., nesse dia, estava cheio de sono, tanto que adormeceu às 18:30 enquanto ainda estava a ser arranjado depois do banho. Dormiu até às 8:30 do dia seguinte, o que é invulgar nele, já que costuma dormir muito pouco, deita-se muito tarde e levanta-se muito cedo. Pode ter sido, sei lá, devido a uma mudança climatérica? :S

Em relação à tal 'irritabilidade', se o meu é assim, o neto dela não é 'melhor'. Ambos querem lavar os dentes sozinhos, não deixam que alguém os lave. Ambos não se querem vestir de manhã (o neto até dorme vestido para de manhã ser só sair da cama, senão faz birra). Ambos fazem birra se querem ir para a esquerda e nós para a direita. Ambos querem calçar sapatos e vestir casacos para ir à rua, senão lá vem birra. Como o M., o neto dela gosta do banho, mas não quer sair de lá, nem quando a água já está gelada e ele roxo (o M. ainda colabora na saída, tem é que vestir o roupão da mana). E, claro, depois não se quer vestir. Cruza os braços e, geralmente, é preciso haver umas três pessoas disponíveis para o agarrar e vestir (eu, sozinha, ainda consigo vestir o M., embora a custo, já que ele teima em andar nu, frio e engelhado atrás do Homem-Aranha e do Noddy; de vez em quando resolve colaborar, distraído com os desenhos animados dos Irmãos Koala, a ler um livro ou a brincar com uma novidade qualquer).

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Prognósticos, portanto: esperar muito, ansiar mais, ter muitas dúvidas e poucas certezas, pagar bem e ter pouco retorno. Como dizia o outro, é esperar pelo fim do jogo.

12 comentários:

Carla Santos Alves disse...

Tens um miudo normal e preguiçoso para falar, acho que é só isso!
Realmente agora parece que todos têm que saber falar, andar e escrever aos 9 meses e serem todos muito precoces!
Eu tenho 3! Todos diferentes, graças a Deus! A Madalena com a idade do meu tomas dizia quase tudo! O meu tomás quase com 2 anos nao diz quase nada...mas entende-se muito bem!

Relaxa minha querida!
Bjs

Unknown disse...

Passei só p te deixar jokitas e n te deixes ires down.

jokitas

Rita disse...

concordo coma carla.tenho 3 e da mais nova ainda não posso dizer grande coisa mas os outros dois é água e vinho.

o meu puto acorda a fazer birra e deita se a fazer birra. é do contra em tudo, tudo para ele é op contrário e acho eu(sei lá eu...lol) que é normal começaram ambos a andar aos 14 meses e dentes foi ela aos 15 meses e ele aos 13.

como vês....

beijo grande que isso não deve ser fácil. qualquer dia até tu já podes dar consultas ...:P

rita disse...

Sinceramente, não podia estar mais de acordo com o q foi dito aqui.
Cada criança tem o seu ritmo! E se há coisa q me irrita nos dias de hoje, é a atribuição de patologias de forma leviana.
No "nosso tempo" ouvias falar de Hiperactividade? Não, ouvias dizer q a criança era muito irrequieta, um piolho eléctrico que não parava sossegada, partia tudo, mexia em tudo...
Ouvias falar de dislexia? Também não.
A minha filha tb só começou a andar (mal) aos 18 meses (já passava). Tá com 2 anos e 4 meses e não está nem aí para o bacio...eu bem a "suborno" para ela começar a largar as fraldas mas se ela continua assim, há-de chegar aos 3 anos ainda com elas.
Fazer o quê?
Quanto ao falar, tenho um primo q aos 3 anos só dizia pai, mãe, papa, bola, noddy e mais duas ou 3 coisas...quase a chegar aos 4 deu um "pulo" e do dia p a noite começou a dizer tudo e mais alguma coisa.
Por isso, só te posso dizer que é mesmo isso: o M. tem o seu ritmo.
Descansa.
Bjs

Rita disse...

ya a Rita tem razão

hoje toda a criança é hiperactiva certo???


LOOOL
se as vezes as pessoas soubessem que a hiperactividade não é assim algum tão soft mas uma coisa sérias que envolve comportamentos mais"violentos" do que ser só não parar quieto...enfim....

querida...beijos

Luz de Estrelas disse...

Andas numa roda viva.. e conheceste o mundo real dos médicos. Eles não concluem nem encontram porque não há nada para encontrar nem para concluir. É a minha opinião. Não fala? Dá-lhe tempo. Muitos miúdos começam a falar para lá dos quatro anos. São raros? Pois serão. Mas existem. E não havendo mais nada, é só isso mesmo. Vocês devem andar destruídos à procura de uma explicação. Moem-se, cansam-se, sofrem. Chega, Xanocas. Um dia ainda havemos de sor(rrir) com o tanto que penamos com esta criançada.

Luz de Estrelas disse...

Quanto aos seus hábitos e rotinas, quase todas as crianças as têm. Às vezes de uma teimosia extrema.

Maria Carloto disse...

Não vale a pena preocupares-te! Provavelmente será um meio de defesa dele... Não lhe apetece e pronto!! Porque não fazem o jogo do silêncio aí em casa? Pode ser que s voces não falarem ele veja que se ng falar ng se entende! =) Eu tinha uma prima que falava muito pouco e mal, ninguem a percebia! No infantario começaram a pô-la uma horinha na sala dos mais pekenitos q estavam a aprender a falar e cm ela se sentia ao nivel deles começou a desenvolver melhor a linguagem!
Tudo se resolve!

Mãe das Marias disse...

É claro que falar é fácil... mas o melhor que têm a fazer é mesmo deixar a "bola rolar"... E com o passar do tempo ver que tudo isto não passou de um sonho mau e que o M. é apenas um menino preguiçoso para falar ;)

Beijocas***

csr disse...

cada criança é única...
mais uma achega... tenho um primo que com dois anos não tinha nenhum, nenhum dente... nada de extraordinário, nasceram todos e já deram lugar a outros.
quanto à consulta de desenvolvimento, salvo o dinheiro que vais gastar, vais ver que não é nada de extraordinário e que pelo menos fizeste tudo...
um beijo grande, enorme...

CLS disse...

Lendo os teus relatos e estando de fora, não me parece que o teu M. tenha qualquer problema, está a cumprir o seu ritmo. O episódio do vómito pode ter sido cansaço misturado com qualquer coisa que lhe caiu mal. Fazes bem em investigar se algo te parece estranho mas a tua opinião e a da educadora, as pessoas que mais tempo estão com ele, são as mais importantes.
Beijinhos.

apimenta disse...

Porque é que as crianças têm que fazer todas o mesmo ao mesmo tempo???? Que tolice. Preocupante, na minha opinião era se o M já tivesse falado e agora não o fizesse. Com o meu filho aconteceu isso. O que me parece sinceramente, é que ele não tem necessidade de falar porque as pessoas que lidam com ele todos os dias o entendem. Vai ver...qd ele começar a falar ninguém o cala.