O M. foi operado na passada terça-feira, há quase uma semana portanto. A cirurgia correu bem, foi de manhã, e à noite já estava em casa. Dormiu a noite toda. O acordar depois da operação foi um pouco complicado e incluiu uma veia a deitar sangue tipo esguicho, porque o cateter saiu, e eu a estancar o sangue com a fralda de pano do M. Não foi bonito. :S
O otorrino passou no quarto por volta da hora de almoço e queria ver se o M. já ouvia melhor. O M., se já dorme muito, então com uma anestesia em cima ainda dorme mais, e é claro que não ia acordar. Ainda se tentou levantar e disse qualquer coisa na linguagem dele acompanhando com uma explicação com as mãos, mas depois disso 'caiu redondo' na cama. Eu acho que ele nos estava a ouvir a falar e levantou-se para 'falar' também, mas não conseguiu porque estava perdidinho... Enquanto continuámos a falar, ia abrindo os olhos, mas depressa voltava a adormecer.
Ficou um dia em casa e já estava farto. Ia buscar os meus sapatos para ir à rua, pegava nas chaves e coisas assim... Por isso, na quinta-feira foi para o colégio, com autorização do otorrino. Nada de dietas. No primeiro dia foi mais à base de líquidos frios, mas dei-lhe miolo de croissant à sucapa, que ele estava cheio de fome e pedia. No dia seguinte já estava tudo normal.
Descobri que ele reconhece uma galinha. Faz 'põe, põe' com o dedo e a mão quando vê uma (em desenho) e diz 'p,p,p'. Tem dançado ao som da música no colégio e em casa. Não nos parece que seja por 'imitação', parece ouvir. Já lhe saiu um 'anda' dito à mana e outro ao pai. No caso da mana, eu estava com ele à beira das escadas para irmos jantar, e eu estava a dizer 'anda M.!' à irmã; só que ela não vinha porque estava a brincar; ele largou a minha mão, foi ter com ela e disse um 'anda' que me pareceu quase perfeito. Com o pai, a situação foi idêntica e ocorreu hoje de manhã, quando o M. queria que o pai fosse com ele. Não sei se ando a imaginar coisas, mas que foi uma palavra parecida com 'anda', foi. A educadora diz que agora ele reage sem ser preciso falar tão alto como antes. Diz que o manda colocar a presença dele no quadro, conforme manda aos outros, e ele vai logo. Antes da cirurgia, em três dias diferentes acordámo-lo com estalar de dedos, em diferentes intensidades, e ele acordou sempre. Numa das vezes, com um único estalar de dedos mais sonoro, até saltou da cama com o susto.
Hoje de manhã, fomos à consulta pós-cirúrgica. O otorrino disse-lhe 'olá' e o M. não lhe ligou. O otorrino acha que o M. não o ouviu. Eu acho que ele estava era distraído a fazer 'olhinhos' à funcionária que (ainda) estava do lado de fora do consultório. Depois, como eu disse que o M. tem reagido ao toque do meu telemóvel, o médico telefona-me. O M., que estava a ler o seu livro, faz uma cara diferente mas continua nos seus afazeres. O médico conclui que ele não ouve, pois claro. Eu acho que o M. acha uma seca estar lá e quer é vir embora. O otorrino lá se meteu com o M. e aí ele riu-se (finalmente uma coisa divertida, deve ter pensado), depois dei-lhe o meu telemóvel e começou a 'falar' colocando-o ao ouvido.
No final da consulta, o otorrino disse 'xau, M.!' sem fazer gestos e o M. levantou logo a mão para acenar (como quem... 'finalmente!'). Ninguém reparou se o M. estava a olhar para o otorrino quando ele falou, mas achamos que não, que ele até estava a olhar para baixo. O otorrino disse outra vez e o M. voltou a acenar. Conclusão do otorrino: 'ele pode saber ler os lábios'. Ok, aqui só me apetecia dar-lhe uma marretada! Já fartinha, virei-me para o M. e disse 'dá miminho à mamã!'. E ele esticou a mão (estava no carrinho de passeio) para me fazer um miminho, não descansando até eu me baixar para me passar a mão pela cara. Será que ele também leu nos lábios uma frase dessas, ainda por cima pronunciada relativamente depressa? E 'xau', lido nos lábios, não podia ser outra coisa qualquer que não xau? E quando acorda com o estalar dos dedos está a ler o quê, a 'Maria'? Qualquer das formas, o otorrino disse que já estava mais contente quando o M. teve estas reacções. Pois, é que o M., ouça bem ou menos bem, não deixa de ser criança, reagindo apenas àquilo que lhe interessa ou desperta a atenção...
Acho que o médico queria que o M. acordasse da cirurgia e dissesse logo 'olá sr. doutor, como tem passado?'... Nós continuamos com muitas dúvidas sobre o nível de audição do M., mas é verdade que ele está melhor. Por exemplo, ontem ele estava sentado na cadeira da papa, de costas para a porta da cozinha, e esta emite um 'estalinho-daqueles-que-a-madeira-faz-quando-está-muito-calor', e o M. vira-se logo para trás. O som não foi alto, mas foi um som diferente, que provavelmente despertou a atenção do M. Parece que o otorrino está à espera que o M. esteja sempre a virar a cabeça para tudo o que é sítio de onde tenha vindo som. Se o M. já conhece o som do meu telemóvel, não pode simplesmente não lhe ligar porque já o conhece, não é nada novo ou interessante? E quanto ao ler lábios, já disse 'miminho' ao ouvido do M. e ele fez. No fim-de-semana, o M. estava a brincar no quarto e eu disse-lhe 'vamos, anda e outras coisas que tal'; não me ligou, mas quando eu disse 'vamos ao papá!', deixou de fazer o que estava a fazer e foi ter com o pai. (Não leu os lábios, acho que até estava de costas.) Por isso, ou são tudo grandes coincidências ou o M. até ouve melhor do que pensamos.
A minha empregada diz que tem um irmão que só começou a falar aos quatro anos. Diz que só apontava para o que queria e nada dizia. Depois, começou a falar e correu sempre tudo bem. Eu acho que o M. é um bocado 'parado', principalmente quando está mais sozinho. Ele gosta é de estar com muita gente, é sociável e comunicativo (olha muito nos olhos, ri-se, faz gracinhas, passa a mão nas pernas das raparigas ;), chama a atenção das pessoas de várias formas), mas, ao mesmo tempo, sempre foi muito dorminhoco, calmo e observador. E se está empenhado em qualquer coisa, não nos liga, parece que não nos está a ouvir nem a ver (e não posso concluir que seja cego porque não liga aos meus gestos). Por outro lado, se interrompo o que ele está a fazer, não 'stressa', até se ri e começa a fazer gracinhas. Continuamos com a hipótese de autismo, mas tanto a mim como à educadora parece-nos quase impossível que seja isso, porque as únicas 'pistas' são ele ainda não falar e parecer não ouvir bem. O otorrino diz que há crianças muito enérgicas e há outras que são mais calmas, mais contidas, que se distraem muito, por uma questão de temperamento apenas, mas que é necessário averiguar se há alguma lesão auditiva (ou doutro género) para ficarmos tranquilos. E nós concordamos.
Sendo assim, o próximo passo é fazer um exame em que o M. tem que estar a dormir (naturalmente ou com anestesia) para analisar o seu potencial auditivo. Vamos fazê-lo na sexta-feira à tarde.
7 comentários:
Fico feliz por ter corrido tudo bem. Acho que o médico é um pouquinho exagerado e exigente. A Tiz tb não faz tudo o que alguém desconhecido pede e ainda por cima num ambiente que ela não goste... Acho que neste caso os médicos têm que confiar naquilo que os pais presenciam.
O M. parece-me um menino perfeitamente normal para a idade, pode não ter a fala muito desenvolvida, mas pode ser uma questão de audição ou mesmo de temperamento e mais tarde vem a apanhar tudo...
Vai correr tudo bem, tenho a certeza ;)
beijocas***
Se vocês, pais (pessoas que conhecem melhor o M.) acham que ele está melhor, é porque está mesmo melhor. Esse otorrino precisava de fazer uma formação em pediatria ou pedagogia infantil; era-lhe útil e evitava que se precipitasse em diagnósticos desses. É que além de poder estar a cometer graves erros médicos, ainda arrasa completamente com os pais. Pior, pode aplicar terapêuticas que sejam erradas e prejudiciais para o menino.
Cada criança é única; tem os seus timmings próprios. Isso tem que ser tido em conta.
Acredito que este pesadelo vai acabar rapidamente.
Bjs
Rita: Ele tem três filhos, mas, pelos vistos, são todos muito precoces. ;) Nós concordámos com a cirurgia, porque era evidente nos timpanogramas que a audição estava muito afectada (nisto, todos os médicos foram sempre unânimes), tinha muito líquido nos ouvidos. Aliás, falei com o pediatra do M. na véspera da cirurgia, para sabe qual era a opinião dele, e ele concordou. Mas é verdade que este otorrino é alarmista, não nos tranquiliza. E se é certo que pode etr razão, também é certo que pode não ter... Só que não podemos continuar com dúvidas, por isso fez-se a cirurgia e vamos fazer o exame que nos dirá se há perda auditiva e até que ponto. Se o exame estiver normal, o passo seguinte é falar com o pediatra (o médico que o conhece melhor) para saber a sua opinião. Também há um pediatra, já velhote, aqui na zona, que é uma espécie de Dr. House, pelo que se for necessário vamos à consulta dele.
Beijinhos para todas!
És incansável minha querida!
Pelo que contas parece que realmente ele está a ouvir!
No proximo exame terás mais uma ajuda!
Se Deus quiser vai tudo correr bem, ainda vais ter aí um rapaz falador!
Bjs
Fikei feliz por saber k td correu bem com a operação e q o M. aos poko vai recuperando :)
O facto de o M. n falar mto n me parece q seja fora do anormal....eu costumo dizer cd caso é um caso mas vai td correr bem vais ver :)
jokitas
Que bom que tudo correu bem! Vais ver que o teu menino vai ficar bom e logo logo vai falar pelos cotovelos...
Bj
Ainda bem que correu tudo bem!
Com um otorrino tão céptico...nem eu lhe ligava nenhuma mas também lhe dizia xauzinho com toda a satisfação! :)
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